ÚNICA Nº 1851 - 19 Abril 2008

O Douro a seus pés

Tranquilidade, vinho e ambiente familiar. Três «luxos» numa imensa propriedade de 120 hectares

Chega-se por uma estrada estreita, estreita, que dá para uma vista linda, linda. O declive vertiginoso do caminho que serpenteia pelos socalcos e o rio, lá em baixo, torna cada curva num suster de respiração, misto de medo e espanto, perante a paisagem. Vinte minutos passados do Pinhão, chegamos às portas da Quinta Nova, uma belíssima propriedade de 120 hectares, que se estende tranquilamente por várias colinas, com o Douro aos pés.
No fim do caminho, lá estão a adega e a casa principal - uma casa senhorial do século XVIII, branca com uma barra cor de mosto, a condizer com as floreiras - panelas de ferro antigas pintadas da mesma cor e pipas partidas a meio. Grande mas acolhedor, o hotel tem «cheiro» a casa de família. As tábuas de madeira rangem ligeiramente, os salões, todos com lareira, exibem gramofones do século passado, sofás confortáveis, jogos de xadrez. Uma sala de jogo, ou de fumo, remete-nos para o ambiente doméstico, embora a decoração seja mais próxima de um hotel de charme.
Os onze quartos, decorados ao estilo tradicional-romântico, com camas de espaldares a percorrerem verticalmente as paredes, e colchas floridas, como os tapetes, aliam móveis de madeira antigos e fotografias a preto e branco pelas paredes. Na casa de banho, um cabaz de produtos da Caudalie, a famosa marca francesa que criou o conceito de vinoterapia e de spas vinoterapêuticos, é oferta da quinta. Assim, o fim-de-semana passar-se-á sob os aromas de uva do gel de banho ou do exfoliante de Sauvignon...
O jantar, servido pelo pessoal da casa, é acompanhado pelos vinhos Quinta Nova. Bebe-se DOC Quinta Nova de 2006, tinto, de quatro castas (Touriga Nacional, Roriz, Barroca e Tinta Amarela), que, apesar de jovem, é agradável e frutado. Feito e envelhecido em cubas de inox, o que poderia parecer estranho revela o sabor único das uvas - todas de letra A. A família Bento Amaral, fundadora da Quinta Nova em 1764, soube escolher - daquele solo só sairia boa vinha. Das mãos destes, a Quinta passaria, já no século XX, para um particular; depois para a família Burmester; e, em 1999, para a família Amorim. Só em 2005 a Quinta Nova abriu as portas como hotel rural, tornando-se no primeiro hotel integrado numa quinta produtora de vinho.
De resto, as provas e as visitas à adega são duas marcas da casa, que oferece passeios pedestres com vários percursos, do museu do azeite aos pomares «africano» e «romano», onde pode fazer um piquenique. E claro, há a vindima. É então que a Quinta Nova atinge o momento áureo, com os cantares nos campos, a apanha, as lagaradas ou a prova do primeiro vinho - e a possibilidade de os visitantes participarem. As 20 mulheres que dão conta dos 85 hectares de vinha durante o ano recebem a ajuda com agrado.
A seguir ao jantar, ao Porto e ao digestivo, quem quer ruma às salas de convívio ou à sala de jogo, que tem um bar vínico. Uma sala para os miúdos, cheia de brinquedos, assegura o sossego dos pais. As cartas ou o dominó aguardam, sobre o pano verde, o terraço convida a um charuto. Até há mantas para que se possa embrulhar e deixar-se adormecer no sofá da sala, à lareira, como se estivesse em sua casa...

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Katya Delimbeuf


COMO IR De Lisboa, vá pela A1 até Coimbra, siga pela A24 até Viseu, e antes de chegar à Régua, corte na direcção de Valdigem/ Armamar. Continue até ao Pinhão, atravesse-o, corte à esquerda e chegará às Covas do Douro. Esperam-no 20 minutos de estrada de montanha, com uma paisagem deslumbrante. De carro, são cerca de 5 horas (duas se vier do Porto). Se quiser deixar o carro em casa, pode apanhar o Alfa Pendular até ao Porto e embarcar no inter-regional até ao apeadeiro do Ferrão. Contactada a propriedade, alguém da Quinta Nova o irá buscar.

ONDE COMER A Quinta Nova serve refeições, desde que confirme a sua presença. A comida é caseira, boa, sempre acompanhada pelos bons vinhos da quinta. A 20 minutos, no Pinhão, o restaurante Ponte Romana serve um excelente cabrito, aos domingos. A 40 minutos fica o DOC, na Folgosa (estrada 222), «coqueluche» da gastronomia moderna.

O QUE FAZER Além de caminhadas, há provas de vinho e a possibilidade de participar na vindima em Setembro. Pode fazer um piquenique no pomar africano e, no Verão, dar um mergulho na piscina, com vista para o Douro.
Contactos: Tel: 254 730 430
www.quintanova.com

 

 

     

 



DA PISCINA descobre-se um pouco a magia da propriedade



Um quarto, romântico



Capela de 1764