ÚNICA N. 1595 24 Maio 2003 PC ao peito Já é possível fazer «upgrades» ao coração. Mas nem por isso a nossa velha máquina passa a ser virtual. Texto de Katya Delimbeuf Quando a ciência se alia à
tecnologia para melhorar a qualidade de vida das pessoas, por vezes
acontecem verdadeiros milagres. Se lhe dissessem que já se
podem fazer «upgrades» ao coração como a
qualquer PC de trazer por casa, a sua reacção mais provável
seria pensar que se tratava de ficção científica.
Na verdade, é possível actualizar um «pacemaker»
sem precisar de fazer qualquer intervenção cirúrgica.
A empresa dinamarquesa Vitatron criou o Selection 9000, o primeiro
«pacemaker» actualizável por telemetria
uma tecnologia capaz de instalar «software» e de receber
«upgrades», sem que para isso o paciente precise de ser
operado. Mas o que é a telemetria e o que torna este «pacemaker» tão especial? Trocando por miúdos: «A telemetria permite ao médico conversar com o pacemaker», explica o cardiologista Machado Rodrigues. «Possibilita a comunicação entre médico e pacemaker, através de um programador com rádio-frequência». O equipamento não só permite visualizar todos os registos do batimento cardíaco, que ali ficam gravados (à semelhança dum disco rígido), como tem capacidade para levar até oito «softwares» diferentes, conforme as necessidades do paciente. São oito «softwares», porque é também esse o número das principais causas de fibrilação auricular, para a qual o Selection 9000 foi especialmente pensado. Esta é uma desordem na condução eléctrica do coração, mais precisamente, nas aurículas. Quando o coração não bate de forma regular nem eficaz, provoca uma irrigação deficitária do organismo, a par de má oxigenação. Isto traduz-se na seguinte sintomatologia: cansaço, mal-estar, e a longo prazo, maior possibilidade de formação de coágulos que podem ser fatais.
Até meados da década de
90, não se vislumbravam grandes perspectivas para o problema
da fibrilação auricular. A Vitatron foi das primeiras
empresas a investir nesse campo. Começou por criar «pacemakers»
que registavam todos os movimentos eléctricos, o que permitia
perceber quando é que surgiam os episódios de fibrilação.
Posteriormente, apostou na prevenção desses episódios
e em pôr-lhes termo. Foi isso que procurou fazer com
este «pacemaker», que «atenua a sintomatologia dos
pacientes a nível da fibrilação auricular, regularizando
o batimento cardíaco», continua o cardiologista, e consegue
ser eficaz na prevenção do fenómeno.
|
|
25 gramas de peso e 15 minutos depois: uma qualidade de vida melhor
Quinze minutos depois da intervenção, a descontracção é visível
O sistema de telemetria permite ao médico «conversar» com o «pacemaker» |