JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias | 9 Agosto 2000

Eça de Queirós
O suplemento ao dicionário

Texto de Katya Delimbeuf

Uma nova hipótese da causa de morte do escritor surge no Suplemento ao Dicionário de Eça de Queirós, dirigido por Alfredo Campos Matos, profundo conhecedor e apaixonado confesso do autor cujo centenário da morte se comemora este ano. O Suplemento (ed. Caminho, a lançar em Setembro) actualiza a última edição da obra (1993), que passa a ter 1041 entradas, graças à colaboração de 52 novos autores.

Em 1988, Campos Matos havia já editado a 1ª edição do Dicionário de Eça de Queirós. O objectivo era então disponibilizar toda a informação existente sobre o escritor, até para possibilitar futuras investigações, mas também registar as curiosidades que tanto o homem como as suas personagens suscitavam nos seus leitores. Em 1993 surgia a 2ª edição, mais alargada, e agora, poderemos contar em breve com o Suplemento.

Entre os novos autores que assim passam a colaborar no Dicionário destaque para José Augusto-França, Óscar Lopes, Eugênio Lisboa, Helder Macedo, João Bigotte Chorão, Fernando Venâncio, Vilma Areas, Elena Losado Soler, Maria Fernanda de Abreu, Pedro Calheiros e Pilar Vásquez Cuesta. Ascende assim a 95 o número de colaboradores e a 1041 o número de verbetes, que se podem consultar no novo Suplemento do Dicionário. Eis alguns exemplos que vêm enriquecer o dicionário: «A recepção literária de Eça no seu tempo», «O problema das relações de Eça com Ramalho Ortigão», «Eça visto pelos seus contemporâneos» (com textos de Ramalho Ortigão, Maria Amália Vaz de Carvalho, Mariano Pina, entre outros), «Eça lido por José Régio», «As relações de Eça com Machado de Assis», «A relação dos livros da biblioteca de Eça de Queirós em Tormes».

Um dos verbetes avança uma nova possibilidade relativamente à causa de morte de Eça, teorizada por Álvaro Sequeira, antigo chefe de serviços de Medicina Interna dos Hospitais Civis de Lisboa, agora aposentado. Esta nova hipótese, que vem contrariar o antigo diagnóstico de amabíase, ao sugerir que Eça poderia ter sido vitimado por um cancro no pâncreas é, no entender de Campos Matos, um dos temas mais passíveis de suscitar o interesse e a curiosidade dos leitores: «Quase que preferia que fosse de facto esse o diagnóstico» - confessa - «assim, ao menos, saberíamos que, se fosse hoje, nada haveria a fazer para salvar o nosso Eça».

Para Campos Matos, o Dicionário é motivo de redobrado orgulho quando comparado com os poucos - e magros - dicionários do mesmo género que existem no resto da Europa, e que a seu ver não fazem justiça à importância de obras e autores como Shakespeare, Balzac ou Zola, o que felizmente não sucede relativamente a Eça.

Campos Matos participa também nas iniciativas do Instituto Camões: elaborou o guião para o vídeo-documentário Eça de Queirós - Realidade e Ficção, foi também o responsável pela organização da exposição Eça de Queirós - Marcos Biográficos e Literários, que deve estar patente em Portugal e em todos os leitorados portugueses no estrangeiro, com um catálogo, traduzido para inglês, francês e espanhol e que serviu de base à página na Internet.

Com uma extensa bibliografia, desde as Imagens do Portugal Queirosiano, de 1976, a Eça de Queirós - Emília de Castro, Correspondência Epistolar, de 1996, ao Dicionário e a Diálogo com Eça, de 1999 e A Casa de Tormes, Inventário de um Património, de 2000; Viagem no Portugal de Eça de Queirós, 2000), Campos Matos acredita firmemente que é sobretudo a actualidade de Eça que o faz viver, cem anos após a sua morte. «Para o provar, aí está a avalanche de estudos, interpretações, reavaliações; em suma, a crítica da crítica; e tudo isto, porque o fascínio e a riqueza da sua escrita não cessaram ainda de nos encantar».

Entretanto, também de sua autoria, acaba de sair Viagem no Portugal de Eça de Queirós, numa edição da Fundação Eça de Queirós, e que apenas aí se encontra à venda, ao preço de 2 500$00 (Tormes - Santa Cruz do Douro - Baião). Ao longo das 154 páginas do livro o autor traça o roteiro (português) da geografia queirosiana, de Tormes a Viana do Castelo, passando por Lisboa, Sintra, Évora, Leiria, Póvoa, etc.

     

 

 

 

 

 

Alfredo Campos Matos