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ÚNICA N. 1759 - 15 Julho 2006
Mudar de vida
Foram mulheres da vida durante anos
- 5, 15, 30 -, mas acabaram por conseguir dar a volta. Hoje, perfeitamente
inseridas na sociedade, têm emprego, aliança, cabeça
erguida. Quatro histórias de mulheres que fizeram da rua a
sua casa e têm hoje uma vida nova.
Texto de Katya
Delimbeuf
Fotografias de José Ventura
Quando elas chegam ao CAOMIO
(Centro de Acolhimento e Orientação da Mulher - Irmãs
Oblatas, em Lisboa), passados 10, 15 anos de rua, vêm todas
em pedaços, como se fossem um puzzle», explica
Maria Angeles, directora da Obra Social das Irmãs Oblatas.
«Mas depois do puzzle estar reconstruído,
ainda não está bem firme - e é fácil desfazer-se».
A OSIO é uma espécie de oásis no Intendente,
onde as mulheres que se prostituem podem procurar abrigo e ajuda para
sair da rua. Pela Obra das Irmãs Oblatas já passaram,
desde 1994, 440 mulheres. Dessas, 22 encontram-se hoje plenamente
reinseridas na sociedade. Dez trabalham em limpezas, cinco em apoio
domiciliário, duas no ramo da hotelaria e restauração,
duas em empresas de telecomunicações e quatro em projectos
da obra social.
A irmã garante que o que sente quando as mulheres se conseguem
reintegrar, depois do todo o processo cumprido, é «mais
responsabilidade». «Tenho muito medo que sofram e que
as expectativas que têm sejam frustradas pela sociedade»,
diz. Neste momento, há três tipologias de mulheres a
frequentar o centro: «As que ainda se prostituem, as que só
estão a meio tempo, e as que já trabalham
e deixaram a rua», explica Hélder Vicente, director técnico
do projecto. As histórias de Margarida, Carla, Andreia e Patrícia,
que por terem uma vida nova preferem dar outro nome, valem como exemplo
- de como é possível descer aos infernos e tornar a
emergir.
«Parece
um sonho que me está a acontecer», Margarida
Sentada à mesa da
cozinha, «Margarida» vai atirando para o marido, na sala:
«Amor... Estás aí?... Queres mimo?» Ainda
não se habituou àquilo que quase parece um sonho. Aos
50, tudo mudou: casou, deixou a rua onde esteve 30 anos, trabalha.
Dá aulas de alfabetização desde Setembro do ano
passado no CAOMIO, o centro que lhe estendeu a mão quando se
sentiu a bater no fundo. «Acho que só consegui dar esta
volta por causa do trabalho que fizeram comigo nas irmãs (Oblatas),
a nível de auto-estima, de assertividade», diz. Margarida
tem formação universitária: o curso de Matemática
só não ficou completo por falta do estágio no
4.º ano. O cansaço das noites de trabalho, nas ruas do Técnico,
a juntar às perseguições policiais que acabavam
às 3 ou 4h da madrugada na esquadra e as frequências
no outro dia de manhã renderam-lhe um esgotamento que acabou
em depressão. Era o que lhe faltava para ser doutora.
Cabelo curto, olho azul, cicatriz a atravessar-lhe a bochecha à
conta de um esfaqueamento que quase lhe tirou a vida. Margarida deixou
a rua em Junho de 2005. «Para isso contribuíram três
coisas: encontrar emprego; uma casa com renda mais barata; e o
homem», confidencia, com um brilhozinho nos olhos. Procurou
outro trabalho várias vezes, garante, mas à conta das
limitações físicas (coxeia de uma perna, devido
a sequelas de uma poliomielite), nunca ninguém lho deu. «Depois,
chega uma altura em que achamos que aquilo nunca vai mudar, que nunca
vamos conseguir sair dali», confessa. «As mulheres estão
muito sozinhas na rua». «Não há amigas».
Era sozinha que também ela estava, quando «o homem»
começou a rondar. «Disse-me que eu tinha muita tristeza
nos olhos». Quando iniciou a sua corte, há dois anos,
começou a ir buscá-la, no seu táxi, à
hora a que ela vinha embora (Margarida trabalhou sempre à noite,
das 21h às 00h30). Incentivou-a a sair da rua. Ela andava numa
fase muito desencantada. Mantinha uma relação de 17
anos com um homem casado, de quem gostava muito, mas que lhe trazia
tristeza. «Passava muitos fins-de-semana sozinha, tinha uma
grande sensação de vazio». Com «o homem»
de roda dela, a servir de companhia aos sábados e domingos,
a levá-la a ver a família, Margarida começou
a ceder... Ele pediu-lhe namoro, depois casamento. E assim foi. «Ganhei
uma família. São muito brincalhões, muito meigos.
Tenho muito carinho», conta, como quem reconhece a sorte que
encontrou.
Foi a falta de carinho que arrastou Margarida para as ruas de Lisboa.
Nasceu numa família de 11 irmãos, a 100 km da capital.
A mãe impunha disciplina à base do chicote, ela decidiu
fugir de casa. Chegou à metrópole com 18 anos, «cheia
de ilusões». No bolso trazia 100 escudos, «que
deram para pagar o comboio, o quarto numa pensão da Rua Maria
Vitória, e o pequeno-almoço do dia seguinte».
No outro dia, «já andava desorientada a ver montras».
Foi logo «apanhada» por um homem, que a meteu numa pensão.
Andou uns sete meses sem eira nem beira, a perder as ilusões
nos cafés. Passou «muita fome». «Não
via saída nenhuma para mim».
A prostituição chegou quase como um alívio -
a partir daí passou a ser a única a mandar na vida dela.
«Quando fui para o Técnico, havia umas 40, 50 mulheres
lá, jeitosas, de mini-saia... E eu caí ali de pára-quedas,
de muleta... Mas consegui impor-me. Tinham-me respeito», garante.
Foram 30 anos passados na rua, perdidos na voragem com que o diabo
esfrega um olho e alguém empenha a alma. Viveu sempre em quartos,
nunca quis casa. Teve clientes regulares durante três décadas.
«Tratava-os como gente. Era a minha defesa. Apanhei de tudo,
na rua. Há muita porcaria - mas também havia gente tão
carente como eu», confidencia.
Na viragem dos 30, começou a preocupar-se com a vida. Decidiu
ir estudar, arranjar emprego. Completou o 12.º ano, inscreveu-se na
faculdade, no curso para «professora de matemática e
ciências». Completou três anos, até o corpo
e a cabeça darem sinal de stop. Um esgotamento
desembocou numa depressão. «Chorava por tudo e por nada».
Depois, pegou em si e arranjou forças para tomar uma decisão.
Meteu na cabeça que não conseguiria terminar o curso,
voltou à rua, resignada. Assim passaram mais 10 anos. Em 2003,
a violência de um assalto em que foi esfaqueada na cara e num
pulmão fê-la bater no fundo do poço. Esteve um
mês internada no hospital.
Foi em casa que viu uma peça sobre o CAOMIO na televisão.
«Ajuda às mulheres prostitutas». Pediu o contacto
das Irmãs Oblatas, ligou para lá e no dia seguinte às
10h da manhã estava a ser atendida. Iniciava-se então
uma nova etapa. Hoje, acorda todos os dias pelas 9h30, dá aulas
no CAOMIO das 11h30 às 13h, regressa a casa e faz o almoço
para ela e o marido. À tarde, ocupa-se no croché e nos
Arraiolos, que aprendeu no centro; pesquisa, em enciclopédias,
para as aulas do dia seguinte. O marido sai, às 17h, para o
turno da tarde, e regressa para jantar, antes de voltar a sair para
trabalhar. E ela, que sempre gostou de «vadiar», garante
que agora lhe faz confusão «sair sozinha à noite»...
«É uma sensação tão boa, não
ter de ir para a rua àquela hora...»
«Fiz
isto pelo meu filho», Carla
As parvoíces que
se fazem por amor. Podia ser este o título da vida de «Carla»,
se alguma vez decidisse escrevê-la em livro. É uma mulher
reservada, de cabelo negro aos caracóis. Aos 36 anos, é
mãe de um filho de 17. Tem um belo sorriso e parece razoavelmente
pacificada, embora confesse que por vezes sente «raiva de não
ter conseguido dar a volta mais cedo». Foram 15 anos de vida
dupla, entre a Avenida de São José, o Parque Eduardo
VII e o Poço do Borratém, em Lisboa - sempre a trabalhar
de dia, sem que a família ou o filho desconfiassem. Todos os
dias ia pôr o menino ao infantário, às 9h, e buscá-lo
às 19h. «Às vezes, quando olho para trás,
acho que estive adormecida estes anos todos». Como é
que se aguenta estar na rua? «Cria-se uma pessoa que não
somos nós», admite. Mas também se aprende muito.
«Aprende-se a conhecer as pessoas. A saber se são boas
ou más só pelo olhar».
Em Janeiro de 2005, começou a trabalhar num lar - «40
horas semanais, divididas por turnos e fins-de-semana». Gosta
do que faz, de ajudar, de dar carinho. «Sinto mais amor das
velhotas do lar do que alguma vez tive em casa», desabafa. Arranjou
este emprego sozinha, procurando na Internet. Ali, ganha «num
mês aquilo que ganhava numa semana, na rua. Tinha dias de fazer
300 euros...», conta. Mas conquistou outras coisas mais preciosas:
«Andar de cabeça levantada. E poder conversar sobre o
meu dia com o meu filho ao chegar a casa.»
«Quando se decide mudar de vida, tem-se medo de não conseguir.
De não ter dinheiro para as coisas essenciais. E tem-se muito
medo de se ser reconhecida». Carla chegou à capital,
com 17 anos, mas estava longe de imaginar a volta que a vida dela
iria dar. Veio estudar. Arranjou trabalho, alugou um quarto. Conheceu
o pai do seu filho, 18 anos mais velho... e casado. Foi então
que começaram os sarilhos e as tolices que se fazem supostamente
«por amor». Aos 19 anos, engravidou. Teve o filho e passados
15 dias, já estava numa fábrica, a fazer limpezas. Um
problema de saúde do companheiro impediu-o de trabalhar, e
a coisa complicou-se a nível financeiro. Foi o próprio
que sugeriu que ela fosse para a rua arranjar dinheiro, ameaçando-a
de levar o menino com ele. Sem dinheiro e com a renda atrasada, incompatibilizada
com a família, Carla não viu alternativas.
Nos primeiros tempos, ganhou «raiva aos homens». O marido
controlava-a, perguntava-lhe por que recusava clientes, maltratava-a.
Dizia-lhe que ela nunca iria conseguir fazer outra coisa. No entanto,
ela não o deixou. «Achava que ele era um bom pai e não
queria que o meu filho crescesse sem pai». A dada altura, Carla
era o ganha-pão de casa e trabalhava para sustentar o companheiro.
Contraíram empréstimos em nome dos dois. As dívidas
sufocavam-na, e com elas esvaía-se a vida. Até que,
aos 11 anos do filho, o homem se perdeu por outras saias e saiu de
casa, para fazer mais um rebento (tem seis filhos, de quatro mulheres
diferentes).
Foi o melhor que podia ter acontecido a Carla. Há dois anos
atrás, mudou de residência, e resolveu que já
não queria pagar contas que não eram dela. Mobilar a
casa nova foi o seu último objectivo. A seguir ao Natal, começou
a procurar emprego. O que se escreve no currículo? «Que
fui doméstica».
Antes, quando perguntava ao filho como lhe tinha corrido o dia, este
retorquia: «Porquê? Tu não me contas o teu...»
Agora, Carla já não tem de ouvir esta resposta. Faz
hidroterapia duas vezes por semana. Gosta de ir ao Centro Comercial
Colombo passear com o filho. Gostava de «arranjar um companheiro
companheiro». E de «montar um lar».
Afinal, diz, «ajudar os outros foi o que fiz a minha vida toda».
«Tive
sempre Deus do meu lado», Andreia
Andreia» integra as
equipas de rua da obra social das irmãs oblatas desde Fevereiro
de 2005. Agora, sai todos os dias para as ruas - onde esteve cinco
anos - do outro lado do passeio. Das 17h às 19h, ou das 21h
em diante, «varre» as zonas do Intendente, Praça
da Figueira, Técnico. Andreia apresenta-se, fala do projecto
do CAOMIO e das suas vertentes - o apoio psicológico, legal,
as actividades ocupacionais -, ouve os desabafos das mulheres. Algumas,
conseguem «resgatá-las» à rua, outras só
querem alguém que as ouça. «É um trabalho
que tem a ver comigo. Gosto de ajudar, de ouvir as mulheres»,
diz. Já aconteceu reconhecerem-na dos tempos em que também
ela andava na rua. «Uma delas perguntou-me: Desculpe lá,
você não é a Andreia? E a partir daí,
começou a falar pelos cotovelos...», conta.
O CAOMIO foi para ela «o início de uma vida nova».
«Vinha muito fechada em mim», lembra. Cabelo curto, negro,
olhos verdes, 37 anos, «solteira e boa rapariga». Representa
um perfil comum na prostituição - o que vem de mãos
dadas com a droga. Toxicodependente durante oito anos - cinco dos
quais recorrendo à rua -, está «limpa» desde
1997. Pelo meio, houve muitas paragens, mais de uma dezena de curas,
«sobretudo para fazer a vontade aos pais», e uma série
de empregos «normais»: em refeitórios, em limpezas...
Tem os descontos da Segurança Social todos em dia. E tudo começou
no sítio aparentemente mais inocente que podia supor-se: um
Jumbo da área de Lisboa. «Tinha 18 anos, um grupo de
colegas que consumia (heroína), um chefe que consumia...»
Ainda trabalhou três anos no hipermercado, estava até
prestes a ficar efectiva. Mas o aspecto começou a denunciá-la,
os pais descobriram-lhe o vício e exigiram que fizesse uma
cura. Sempre que voltava, vinha bem. Passado um tempo... reincidia.
A prostituição chega em 1992, quando o hábito
começa a falar mais alto que tudo o resto, incluindo a dignidade.
Mas nunca se está suficientemente pedrado para esquecer. «A
primeira vez que fui para a rua, chorei muito. Era preciso estar com
a cabeça muito cheia para conseguir estar ali.
Depois, quanto mais lá estava, mais consumia para aguentar.
E quanto mais ganhava, mais consumia.» Chegou a gastar mais
de 250 euros por dia. A consumir «de três em três
horas, e quando estava acordada, tinha a cabeça
quase a bater no chão». Começou por fazer
rua só à noite, depois era «de manhã,
à tarde, à noite». Lembra-se de metade das colegas
na rua serem toxicodependentes. Hoje, quando sai com as equipas, vê
menos mulheres metidas na droga.
Conseguiu livrar-se do vício e da rua com a ajuda de um homem
que lhe deu a mão. «Pagava-me tudo: consultas de psiquiatria,
medicamentos...» Enamorou-se, mantiveram uma relação
durante um ano. Em 2004, uma vizinha falou-lhe no CAOMIO. «A
minha entrada para as actividades foi muito importante. O acompanhamento
psicológico... Devia haver mais CAOMIOs», considera.
Ainda hoje frequenta as actividades da tarde, e o centro das Irmãs
Oblatas está integrado na sua rotina. Todos os dias, está
lá, para cumprir a função de recepcionista e
acolher as mulheres que chegam. Depois das actividades da tarde, segue
para as equipas de rua, e pelas 20h chega a casa para jantar. Vive
com os pais, um irmão e uma sobrinha. Leva uma vida calma,
e é assim que a quer - emoções fortes já
teve com fartura. Da sua experiência não guarda amargura
nem ressentimentos. Apenas ganhou «uma grande força de
viver, de ficar por cá». «Já tive muitos
sustos na vida», diz. «Sorte até tenho. No meio
de tantas confusões em que me meti, tive sempre Deus do meu
lado».
«Foi
como ter nascido de novo», Patrícia
Num modesto quarto alugado
de uma residencial na Av. Almirante Reis, Patrícia está
sentada em cima da cama. A sua «casa» é na verdade
pouco mais que uma cama e uma casa de banho. Pousada no roupeiro está
a fotografia do seu «amor», que lhe ofereceu a aliança
que traz no dedo, apesar de não serem casados. «Normalmente,
quando saio do trabalho» principia ela, «bebo um café
na pastelaria cá de baixo, tomo o meu duche, depois vou comprar
uma sandes, deito-me em cima da cama, e a meio do telejornal já
estou a dormir». Ao longo da noite, vai acordando e esticando
o braço para alcançar o telemóvel, de cada vez
que o seu «amor» lhe manda uma mensagem. E são
muitas. Trocam cerca de 60 por dia. 60! Não é brincadeira.
Aos 41 anos, mãe de quatro filhos com idades entre os 24 e
os 13, Patrícia trabalha há um ano como telefonista
numa empresa. Das 9h às 18h. Acorda às 6h da manhã
todos os dias. Não é muito o dinheiro que traz para
casa no fim do mês - comparado com o que fazia na rua. Mas «este
sabe muito melhor». Porque veio com outras conquistas.
«Sabe bem deitar-me todos os dias na minha cama com a alma e
o corpo limpos, que é coisa que não se consegue fazer
naquela vida. Por muitos banhos que se tomem, parece que nunca sai
aquele cheiro a homens. Agora estou num mundo completamente diferente.
Foi como se tivesse nascido de novo», garante. «Na rua,
vive-se um dia de cada vez: se precisava de mais dinheiro, trabalhava
mais. Se não me apetecia ir, não ia. Agora, é
aquele x todos os meses e temos de nos contentar».
Mas ela assegura: «Não tenho saudades de absolutamente
nada».
Foram cinco anos de rua, entre a Artilharia I e o Parque Eduardo VII,
em Lisboa. Saiu da prostituição em Outubro de 2004.
Mas não foi fácil readaptar-se à vida «normal».
«Ao princípio, tem-se sempre o coração
nas mãos. Vê-se tanta gente. Começa-se logo a
pensar: Será que eu conheço aquele?»
Bastava que um colega brincasse ou «mandasse bocas» sobre
o Parque Eduardo VII para que corasse e se enterrasse em frente ao
computador, com medo que fosse com ela. «Ainda demorei uns seis
meses até perceber que não tinha um rótulo na
testa», admite.
Foi parar tarde à prostituição, aos 33 anos,
o que não é muito frequente nestes casos. Em comum,
no entanto, há outros traços: a «falta de amor»
da mãe, que a fez fugir de casa aos 15 anos; as gravidezes
precoces, que começaram aos 17 e se repetiram aos 22, aos 26
e aos 28, apesar da relação com o marido ser feita de
violência. «Apanhava dia sim, dia sim. De vez em quando,
lá andava de braço ao peito, de nariz partido».
Um dia, desesperada, fugiu para Lisboa. Às cenas de choro e
promessas de mudança, deu ao homem uma segunda oportunidade.
«Foi o pior que podia ter feito. Vi a vida por um fio, com uma
faca de mato ao pescoço».
No dia seguinte, regressou à capital. Durante três anos,
trabalhou em limpezas. Mas o dinheiro era curto, e as relações
com a mãe continuavam más. Então decidiu «arranjar
dinheiro como via outras fazer». Hoje, nem consegue passar perto
do Parque Eduardo VII. Quer uma vida pacata, feita de prazeres simples
com o namorado. «E mais tardar à meia noite: casa!»
Olhando para trás, não hesita. Soubesse ela o que sabe
hoje, «teria feito tudo para não conhecer aquele buraco».
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