|
O
|

BLUE
TRAVEL No. 21 | MARÇO 2005 

TODOS OS
TEXTOS © BLUE TRAVEL
| KATYA DELIMBEUF
Salamanca | Espanha
Na terra do Vítor, da Rã e do Astronauta
Descortine-se, desde já, o título
críptico, para quem não conhecer Salamanca: estes
são três dos símbolos que marcam a cidade. Salamanca
conjuga passado e presente, História e movida estudantil.
Não faltam passeios agradáveis para dar pelo centro histórico,
recantos e jardins onde parar, pátios interiores perfeitos para
namorar. Dê um pulo a Salamanca...
Por
Katya Delimbeuf / Fotos de Fabrice Demoulin
Alba Ceballos
está sentada ao sol, nas escadarias da Faculdade de Filologia,
na Praça Anaya. Esta bonita morena de Burgos, cabelo apanhado em
rabo de cavalo, quis sempre fazer os estudos em Salamanca. «Porque
a Faculdade é muito prestigiada. E por causa do ambiente da cidade.»
Não há sítio melhor no mundo para estudar, assegura-nos,
nem ninguém que tenha estudado aqui e não tenha gostado.
Alba encantou-se com este sítio, universitário por excelência.
«Aqui, a vida é barata. Podes viver bem por pouco».
Para esta estudante do 3º ano de Biologia, o facto de Salamanca ser «muito
concentrada e circular» facilita a vida social intensa dos que lá
vivem. De tal forma que «às vezes, tens a sensação
de conhecer toda a gente, todos os sítios...»
E depois, há a afamada noite: «Todos os dias há festas»,
a começar bem tarde. É normal os bares começarem
a encher à 1h, 2h30 da manhã, e acabarem... quando Deus
(ou o diabo) quiser. «Hombre! Deviam dar-nos um Mais
por estudarmos aqui, pela intensidade da vida nocturna. Não é
fácil saír de noite e estudar de dia. Mas no dia seguinte,
às oito da manhã, as bibliotecas estão cheias...»
Ela própria sai pelo menos duas vezes por semana, à Terça
e à Quinta, quando está em período de exames. Quando
não está... é todos os dias.
Alba é uma fiel representante de Salamanca ela é
uma entre 40 mil estudantes que dão vida e cor às ruas da
cidade, rejuvenescendo-a. É da junção destas duas
características, essencialmente, que vive Salamanca: da História
e da juventude, do antigo e do moderno. Dos monumentos perfeitamente preservados
e dos estudantes que matizam as noites de festa. E há um elemento
que faz a ponte entre o passado e o presente: a universidade. Qualquer
visita a Salamanca tem de passar por aqui.
Não é à toa que Salamanca foi classificada pela Unesco
património da humanidade. Com um centro histórico impecavelmente
preservado, a conservação é uma preocupação
óbvia dos salmantinos, que têm muito orgulho na sua cidade.
Em todos os edifícios, domina a pedra de Villamayor, a pedra amarela
que doura a cidade, quando o sol se põe. O ocre é outra
das cores locais, presente nas insígnias que dão nome aos
monumentos, com origem nos famosos «Vítores» (do latim,
«vitória»). O Vítor é um símbolo
de V maiúsculo, avermelhado, acompanhado pelas datas de formatura
dos alunos que terminavam a licenciatura na universidade, desde o século
XIII - hoje, apenas os doutorados têm direito à insígnia
na parede. No fim do curso, havia uma corrida de touros, e era com o sangue
derramado misturado com azeite que se obtinha a cor que ainda hoje marca
a cidade.
Salamanca é uma cidade para desfrutar a pé - para se perder.
Só assim, percorrendo as ruelas acima e abaixo, conseguirá
surpreender-se. A cinco horas de Lisboa, Salamanca tem uma interessante
variedade de propostas para passar um agradável fim-de-semana.
Um conselho: venha na Primavera, para evitar os rigores do inverno salmantino.
É que a maioria dos passeios pelo centro histórico são
pedonais, e caminhar ao frio não é o mais agradável...
Passear é o principal programa em Salamanca, pelo menos
durante o dia. E, sorte a nossa, não faltam itinerários,
monumentos e recantos para descansar a vista e alimentar o espírito.
Mas comecemos do princípio. Entre a pé pela ponte romana,
que oferece uma visão de Salamanca dentro das suas muralhas. Embrenhe-se
nas ruas e rume até à Catedral Velha, donde tem a melhor
vista da cidade. Não faça como nós e suba aos dois
terraços, atravessando a nave da Catedral Velha. Ao saír,
a tradição manda que nos detenhamos em frente à fachada
até encontrar... o astronauta. O leitor poderá interrogar-se
sobre como é que uma Catedral Românica do século XII-XIII
pode ter na fachada um astronauta, mas não é gralha, antes
um restauro recente que decidiu acrescentar um pormenor da nossa época.
Ao lado da Catedral Velha, a sua irmã mais nova, a Catedral Nova,
já do período gótico, dá sobre a Praça
de Anaya, um lugar agradável, com bancos de jardim e relva, no
verão completamente pejado de estudantes. Alojada no antigo Palácio
Anaya, a faculdade de Filologia, ali em frente, ganhou um belíssimo
edifício, com um pátio interior de dois pisos e arcadas,
cheio de Vítores de várias épocas. Ao
lado, a Hospedaria Anaya (antigo Palácio de Castellanos) tem também
um pátio interior muito bonito, relvado, perfeito para uma pausa
ou para ler um livro.
À procura da rã
Vir a Salamanca e não entrar na Universidade é como ir a
Roma e não ver o Papa. É aqui que se encontram os «Vítores»
mais antigos, e a biblioteca é irresistível para qualquer
amante das letras. A Universidade de Salamanca, no Pátio das Escolas,
foi uma das primeiras da Europa a sua fundação remonta
a 1254. Só para ter uma ideia, no século XVI, tinha setenta
disciplinas e 10 mil alunos... Hoje, já não há aulas
no edifício, mas é possível visitar as salas com
os bancos corridos da época e imaginá-los ocupados por mentes
brilhantes. Ao saír, postamo-nos, como qualquer turista informado
- ou estudante do 1º ano -, em frente à fachada rendilhada da universidade,
à procura da rã. Existe, algures, escondida no minucioso
trabalho de arquitectura gótica... um batráquio. As interpretações
para o facto são muitas, e os caloiros de Salamanca são
todos os anos colocados aqui em frente para a descobrirem... Quem a encontrar
terá, supostamente, as cadeiras do primeiro ano passadas. Nós
damos-lhe uma ajuda: olhe para a coluna do lado direito, por cima de uma
caveira... Pode parecer brincadeira, mas à conta disso, a rã
é hoje ainda o símbolo de Salamanca.
Ao fundo da praça da universidade, o Pátio das Escolas Menores
tem passagem para a rua de trás, a Calle Liberos. Seguimos até
à Plaza San Isidro, para apreciar outro ícone de Salamanca:
a Casa das Conchas. Construída no fim do século XV, deve
o nome ao facto de ter dezenas de conchas na fachada, como elemento decorativo.
Diz-se que por baixo de uma delas existe um tesouro, e por isso é
que algumas estão furadas... Já estamos na Calle Mayor,
a principal artéria da cidade, que desenboca na Plaza Mayor, o
centro nevrálgico de Salamanca. Aqui, tudo fervilha. Há
sempre gente na praça, sentada em esplanadas, ou de pé,
a conversar. Ao fim da tarde, quando a luz dos candeeiros se acende, a
praça enche-se e parece que é agora que tudo está
prestes a começar - a noite. A festa. Sentamo-nos num dos cafés
debaixo das arcadas, para melhor sentirmos o pulsar da cidade. À
tarde, a praça tem uma população mais envelhecida,
mas à noite, especialmente no verão, é quase impossível
atravessá-la. Tem de se dar a volta por baixo das arcadas.
Tapas ao serão
«Em Espanha, sê espanhol» - por isso, decidimos «caír
nas tapas». Na procura constante do melhor roteiro Blue
para si, descobrimos o moderno Momo, na Calle San Pablo, um bar de tapas
no piso de cima e um moderno restaurante muito trendy no andar
de baixo. A gastronomia é óptima, pela mão de Miguel
Reguera e a refeição rapito com tomate,
acompanhado por um belíssimo vinho tinto Toro (segundo Miguel,
«o melhor vinho espanhol»), coroado com um milfolhas de maçã
e sorvete de cidra à sobremesa - excelente. A noite é uma
criança e quem quiser tem escolhas de sobra para ficar a pé
até de madrugada. Nós, como queremos acordar fresquinhos
e descobrir cada recanto desta cidade, rumamos a casa, reconfortados pelo
Toro e embalados na névoa do fim de noite.
Feito o roteiro dos incontornáveis, hoje podemos fazer um dia mais
ecléctico e ir apenas a um ou outro sítio que nos apeteça.
Começamos pelo Colégio dos Irlandeses, na zona ocidental
da cidade, onde nos perdemos no magnífico claustro renascentista.
De seguida, damos um salto à Casa Lis, o Museu de Arte Nova e Art
Déco, alojado num belo edifício de 1905, onde pode passar
horas a apreciar o tecto, em vidro modernista, pintado de cores fortes.
Ao almoço, paramos num restaurante novo que descobrimos na estreita
Calle Clável, o Stravaganza. Pela decoração do espaço,
moderna e muito clean, é impossível passar e
não entrar. Perceberá quando vir os três andares,
cada um com seu design.
Um dos proprietários, Pierre Yves, é francês e vive
em Salamanca há três anos. Trabalhou em Nova Iorque, na Holanda,
no Rio de Janeiro, mas fixou-se aqui por achar a cidade «muito bonita,
com um belo centro histórico e uma boa vida nocturna. No fundo,
por ter ao mesmo tempo tradição e cosmopolitismo, por ser
pequena e fácil de viver...» É o segundo negócio
que o parisiense de 33 anos tem em Salamanca. A par deste italiano, é
dono dum restaurante de comida mediterrânea na Plaza da Libertad.
O boémio Zazu aposta numa gastronomia de fusão francesa
e italiana e a escolha, ao serão foi das mais acertadas.
À tarde, passamos no Convento de las Dueñas, onde não
perdemos a oportunidade de provar e trazer para casa os
amarguillos, os doces locais que as freiras fazem. Ao contrário
do que o nome indica, não têm nada de amargo, são
bolinhos de leite e manteiga. Não muito longe, o jardim de Calixto
y Melibea é perfeito para namorar, assim como ver o pôr do
sol sentado num banco de jardim à beira do rio Tormes. Para os
amigos e os não-namorados, o barulho da água e a paz de
espírito podem ser a melhor das companhias. É nesta altura,
ao entardecer, que Salamanca se deixa dourar pelo sol. E esta é
a melhor fotografia que pode trazer consigo.
|||||||||||||||||||||||||||
GUIA
Hotéis
Parador de Salamanca
Teso de la Feria
Tel: 923 268 700
www.parador.es
Ao contrário da maioria dos Paradores de Espanha, este não
se instalou num monumento da cidade, convento ou castelo. Construído
de raíz, não está em pleno centro histórico,
mas tem uma vista única sobre Salamanca.
Duplos a partir de 120¤
Hotel Palacio de Castellanos
Calle San Pablo, 58-64
Tel: 923 261 818
www.nh-hotels.es
Duplo a partir de 136¤
O espaço é a principal mais-valia deste antigo palácio
do século XV com um belo pátio interior renascentista. Situa-se
no centro e tem 69 quartos.
Hotel San Polo
Calle Arroyo de Santo Domingo, 2
Tel: 923 21 11 77
www.hotelsanpolo.com
Duplos a partir de 102¤
Aqui, o que impressiona é o aproveitamento que foi feito das ruínas
de uma igreja românica do século XI, a de San Polo, cujas
fachadas envolvem o hotel. O resultado está muito bem conseguido.
O hotel existe há 14 anos e conta com 37 quartos.
Microtel
Calle Placentinos, 9
Tel: 923 28 15 31
www.microtelplacentinos.com
Duplo a partir de 65¤ (época baixa)
Seria quase um hotel de charme, se a decoração correspondesse
ao espaço. Tem 9 micro-quartos (7 duplos e 2 singles),
com ligação à internet, e situa-se no antigo bairro
chinês, numa casa antiga remodelada. Mantém a pedra e a madeira
originais, que contribuem para o seu charme.
Restaurantes
Zazou (Blue Spirit)
Plaza de la Libertad, 8
Tel: 923 26 16 90
Cozinha mediterrânea, de fusão entre a gastronomia italiana
e francesa. Aberto de Terça a Domingo, ocupa o 1º andar de uma
casa antiga, e tem um ambiente boémio e acolhedor. É um
restaurante com charme e uma excelente cozinha. Recomendamos os «chuletillos
de cordero» com molho de caramelo e pesto, regado com um Toro Crianza
2002 (Finca Sobreño).
Preço médio: 25¤ (com vinho)
Momo (Blue Spirit)
Calle San Pablo, 13-15
Tel: 923 280 798
Bar de Tapas em cima, restaurante design em baixo. Tem uma
boa ementa, confeccionada pelo chef Miguel Reguera. Recomendamos o Rapito
com tomate, acompanhado por um bom Toro, «o melhor vinho tinto espanhol».
À sobremesa, não perca o mil-folhas de maçã
com sorvete de cidra, e o licor de maçã
Preço médio: 25¤ (com vinho)
Stravaganza
Calle Clavel, 6
Restaurante italiano recém-inaugurado, tem uma decoração
fantástica, moderna e muito fashion, da autoria dos
designers espanhóis Alberto e Óscar Perez. São
três andares e três ambientes diferentes, onde dominam o vermelho,
o branco e o negro. Recomendamos os ravioli recheados com abóbora.
Preço médio: 18¤ (sem vinho)
Atenção a um pormenor importante: aqui, muitos restaurantes
regem-se por horários espanhóis. Ou seja: ao almoço,
a cozinha abre às 13h30, 14h, e ao jantar, a afluência começa
verdadeiramente a partir das 22h.
Gran & Oro
Plaza del Angel (junto à Plaza Mayor)
Tel: 923 26 14 05
Restaurante Parilla, tem na ementa sobretudo assados de carne. Também
recém-inaugurado (em Janeiro deste ano), tem uma decoração
sofisticada e trendy, onde dominam os vermelhos e os brancos.
Para beber, recomendamos um Ribera del Duero (Viña Mayor), e um
licor Pedro Ximenez como digestivo. Preço médio: 25¤
(com vinho)
Delicatessen
Calle Melendez, 25
Tel: 923 28 03 09
Bar restaurante, com uma ementa essencialmente à base de carne
e grelhados. A decoração é apurada e o ambiente agradável.
Também bom para tomar um copo.
Bares
Buda Bar
Plaza San Boal, 5
Posada de Las Almas
Plaza San Boal
www.laposadadelaslamas.comCafés
Café Novelty
Plaza Mayor
O local onde Miguel de Unamuno vinha todos os dias tomar o seu café
tem lá a sua estátua.
Tel: 923 219 990
Museus
Casa Lis Museu de Art Nouveau e Art Déco
Calle Gibraltar, 14 (por trás da Catedral Vieja)
www.museocasalis.org
Edifício de 1905 que alberga o Museu de Arte Nova e Art Deco. Durante
a semana, está aberto das 11h às14h e das 16h às
19h. Fecha à 2ª.
Bilhete: 2,5¤. Se for à sexta-feira de manhã, a visita
é gratuita.
Jardins
- Huerto de Calitxo e Melibea
Aberto todos os dias, das 10h às 14h e das 16h às 19h.
Entrada gratuita.
|||||||||||||||||||||||||||||||||
TODOS OS TEXTOS
© KATYA DELIMBEUF
[ NOTAS CURRICULARES ] [ CONTACTOS
]
|
|
|




|