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 BLUE 
        TRAVEL No. 33 | ABRIL 2006
 
 
  
 TODOS 
        OS TEXTOS © BLUE TRAVEL | KATYA DELIMBEUF
 
 Kruger Park
 Três hotéis, para uma vez na vida
 É 
        uma das mais conhecidas reservas do mundo. Uma das mais antigas, e uma 
        das maiores - tem 2,2 (impressionantes) milhões de hectares
 
        Todas as espécies animais moram ali. E é tudo em grande. 
        Mas há muito mais para ver no Parque Nacional do Kruger, África 
        do Sul, do que fauna e flora. Venha daí.
 Por 
        Katya Delimbeuf / Fotos de António Nascimento
 Na estrada de brita que nos leva aos campos 
        privados, no Kruger Park, cinco miúdos, de palhas improvisadas 
        à cintura e nos tornozelos, dançam, na esperança 
        de ganhar uns trocos dos jipes de turistas que passam. O ritmo que têm 
        no corpo e a naturalidade com que improvisam fazem-nos parar. Por acaso 
        - se é que os acasos existem -, tínhamos comprado um CD 
        de música africana nessa manhã, que ouvíamos naquele 
        momento. O instinto foi imediato: aumentamos o volume da música, 
        saímos do carro e desatamos a dançar com eles, no meio da 
        estrada. Os pés levantam pó, que se acumula no ar. Deolinda, 
        companheira de viagem, nascida e criada em Moçambique - Lourenço 
        Marques -, é a mais entusiasta. Afinal, o ritmo corre nas veias 
        - e o resto é paisagem. Apesar de breve, o momento ficou-nos como 
        um dos mais importantes da viagem. Não que o Kruger Park não 
        seja bonito ou que os lodges onde pernoitámos não 
        fossem divinos  antes pelo contrário. Mas o contacto humano 
        supera tudo o resto...
 No Kruger, tudo é em grande. A começar pela área: 
        2,2 milhões de hectares. Pelo número de visitantes: um milhão 
        por ano - e são esperados muitos mais, desde que foi criado, em 
        2002, o Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo, um gigante de 
        35 000 m2 que reúne as reservas de três países contíguos: 
        o Kruger Park, na África do Sul, o Parque Nacional do Limpopo, 
        em Moçambique, e o Gonarezhou, no Zimbabwe. E claro, pela quantidade 
        de animais. Alguns dados chegarão para perceber a dimensão 
        e a diversidade da reserva, criada em 1898 pelo então presidente 
        Paul Kruger. Esta é a casa de mais de 500 espécies de pássaros 
        e de 147 espécies de mamíferos, entre os quais se destacam: 
        150 000 impalas, 32 000 zebras, 25 150 búfalos, 10 500 elefantes, 
        9000 girafas, 5000 rinocerontes, 2000 leões, 2000 hienas, 1000 
        leopardos, 200 chitas, etc... Misturando tudo, tem-se
 um grande 
        melting-pot animal, uma espécie de Nova Iorque em versão 
        fauna. E estamos todos lá, nós visitantes, de máquina 
        fotográfica em riste, prontos para eternizar o momento em que o 
        elefante sai de trás da árvore, que a girafa faz a esparregata 
        para beber água, a impala em pleno salto ou o rugido imponente 
        do leão. Quem gosta de animais sentir-se-á no céu 
        aqui, como que a viver o sonho do National Geographic ao vivo e 
        a cores.
 
 Um dos factores interessantes do Kruger é que foi pensado para 
        chegar a todos, independentemente das bolsas. Por isso, as pessoas podem 
        entrar no parque no seu carro particular. Há um conjunto de regras 
        estritas: não se pode sair do veículo nem da estrada (não 
        se pode enfiar pelo mato, ao contrário dos campos privados) e não 
        se pode ultrapassar os 50 km/h  mesmo! - o que, bem sabemos, é 
        difícil para um condutor português. São muitos os 
        campos onde pode ficar, na zona do Kruger, e dividem-se entre públicos 
        (23) e privados  novamente, numa perspectiva inclusivista, para 
        que todos possam desfrutar das belezas do parque, independentemente das 
        bolsas.
 
 Como em quase todos os sítios do mundo, os lodges privados 
        são mais bonitos e mais confortáveis que os campos estatais. 
        Por isso, é para lá que vamos. A maioria situa-se na Sabi 
        Sands Game Reserve, banhada por dois rios, o Sabi e o Sands. Muitos eram 
        antigas fazendas de caça. A nossa primeira paragem é no 
        Lion Sands, que é composto por dois lodges: o River 
        Lodge, nas margens do rio Sabie, e o Ivory Lodge, o irmão 
        mais novo, mais design e minimal. O River Lodge é 
        um campo agradável e bonito, com 18 espaçosos quartos em 
        madeira e tecto de colmo, semeados ao longo de passadeiras de madeira, 
        rodeadas de vegetação. À noite, depois de um revigorante 
        banho de imersão, os hóspedes confraternizam na sala, junto 
        à lareira, antes de serem regalados  e a palavra é 
        esta  com um manjar dos deuses. Os convivas podem escolher entre 
        vários pratos, todos com um toque assumidamente gourmet 
         ou não fosse a chef do Lion Sands Janine Hobbs, 
        muito reputada na África do Sul. Note-se, porque é digno 
        de registo, que no Lion Sands as chefs são mulheres, 
        facto não muito comum. E a título de exemplo de refeição 
        em que é impossível conter sons menos próprios, fechar 
        os olhos e agradecer a Deus ter inventado a comida, aqui fica uma das 
        ementas de quatro pratos, entrecortados por sorbet para renovar 
        o paladar: sopa de aboborinha e cominhos, wrap de cogumelos 
        e espinafres, carré de borrego em cama de puré 
        de batata e legumes grelhados, e pudim de malva e menta.
 
 Às 5h30 da manhã do dia seguinte, o bater na porta do quarto 
        lembra-nos que é hora do primeiro safari do dia. Um sumo de fruta 
        e uns biscoitos mais tarde, estamos a subir para o jipe de caixa aberta, 
        em direcção aos animais. Para os que ainda não estão 
        familiarizados com o hemisfério Sul, é bom lembrar que o 
        nosso verão é o Inverno deles  pelo que Junho, Julho, 
        Agosto e Setembro são meses de temperaturas frias, sobretudo de 
        manhã e à noite. Durante o dia, o mercúrio sobe a 
        uns amenos 25ºC, mas os amanheceres e anoiteceres caem facilmente aos 
        5º C. Por isso, não é de estranhar que no jipe aguardem 
        mantas e botijas de água quente para cada passageiro. É 
        um facto que a botija poderá fazer-nos sentir mais como a nossa 
        avó do que como intrépidos aventureiros na selva africana. 
        Mas quando o jipe começar a andar, vai agradecer ter este conforto 
        no colo.
 
 De gorro, luvas, cachecol e camadas de roupa que vamos largando à 
        medida que o sol aparece, quais cebolas, partimos, ranger 
        ao volante e pisteiro empoleirado na frente do jipe, para identificar 
        as pegadas dos animais. Começamos bem. À beira da estrada, 
        uma leoa de 4 anos está estendida, aparentemente perdida do resto 
        do bando, que tenta localizar através de rugidos. O jipe está 
        parado mesmo ao lado dela, a 2 metros, e a leoa não parece minimamente 
        incomodada. A determinada altura, levanta-se e entra pelo mato dentro 
         ao que nos apressamos a segui-la. Cinco minutos mais tarde, a perseguição 
        traz frutos. Damos de caras com um bando de seis leoas
 e duas crias 
        pequenas, de três meses e meio. A visão de petizes é 
        sempre um momento especial, e as máquinas fotográficas não 
        dão descanso ao dedo. A meio da manhã, é tempo de 
        parar para chá e chocolate quente, numa planície no meio 
        do mato, e esticar as pernas.
 
 São 8h quando voltamos a subir para o jipe e iniciamos a segunda 
        parte do safari. Meia hora volvida, avistamos um leopardo, deitado relaxadamente 
        em cima de uma rocha. Este é um dos animais mais difíceis 
        de ver, juntamente com a chita - por isso sabemos que somos uns felizardos. 
        Numa única manhã, já vimos dois dos «Big Five» 
        (Leão, Leopardo, Búfalo, Elefante e Rinoceronte), os animais 
        mais cobiçados. Mas a manhã ainda não tinha acabado, 
        e reservava-nos uma derradeira surpresa. O barulho de uma árvore 
        a partir chama a atenção do ranger: sinal inequívoco 
        de elefante nas redondezas. Estes quadúpedes de grande porte são 
        um dos maiores «assassinos de árvores» de África. 
        Arrancam inúmeras, partem muitas outras, matam outras ainda, arrancando-lhes 
        a casca e sugando-lhes a seiva. Afinal, consomem uma média de 200 
        a 250 kg de folhas todos os dias
 
 Calmamente, a comer folhas e ramos de árvores, lá está 
        o nosso elefante. Este tem uma presa partida, por causa das lutas entre 
        machos, na altura do cio. Mas o jipe desperta a curiosidade do animal, 
        que não parece muito agradado com a intromissão e começa 
        a dirigir-se para o veículo. As passadas são de tal modo 
        rápidas que somos obrigados a pôr o motor em marcha e fazer 
        uma retirada estratégica. Não há crise: o elefante 
        não vem à carga, e por outro lado, é bom ver que 
        há animais que ainda reagem à nossa presença. É 
        sinal de que não nos assimilaram como um deles.
 
 Regressamos ao campo pelas 9h30, onde nos espera o pequeno-almoço 
        no deck, à sombra das árvores frondosas. Temos 
        vista para a planície onde o capim seco é pasto de bambis 
        e macacos, que por lá passeiam alegremente. Nesse dia, tivemos 
        ainda a sorte de conhecer Louise More, proprietária do Lion Sands 
        desde 1932. Tinha vindo ver o filho Nick e os netos. É uma senhora 
        com muito bom ar, cabelo grisalho, alta e magra, de educação 
        irrepreensível. Passaria por britânica, mas é na verdade 
        filha de mãe portuguesa, natural de Moçambique  Lourenço 
        Marques, mais precisamente. Louise lembra-se bem dos fins-de-semana que 
        lá passou, a velejar. «Era um pouco da Europa em África», 
        recorda. O pai de Louise era americano, um mineiro que comprou estas terras 
        nos anos 30 e viria a morrer na guerra, aos 23. A mãe nunca tornou 
        a casar, e Louise e ela costumavam vir para aqui de charrette, 
        «quando não havia estradas, nem linhas telefónicas, 
        nem electricidade». Não eram condições fáceis, 
        muito menos para duas mulheres, mas a sua fibra também não 
        era vulgar
 
 Passar a adolescência sozinha, no meio do mato, não foi agradável, 
        por isso Louise admite: «Só a partir dos meus 20 anos comecei 
        a gostar disto». Depois, passou a vir com os amigos, e começou 
        a ser divertido. Aquilo que antes detestava  «a tranquilidade, 
        a solidão
» - é o que hoje mais gosta. Teve três 
        filhos: Nick, que dirige o Lion Sands; o do meio administra propriedades 
        no reino da Suazilândia; e o mais novo trabalha em Joanesburgo. 
        Em 1978, Whartog Wallow  assim se chamava a propriedade  abriu 
        ao público. Manteve-se inalterada até às cheias de 
        2000 a terem posto debaixo de água. A casa da família ficou 
        completamente destruída, a chuva só deixou a ponta dos telhados 
        do lodge de fora. O rio Sabie fez juz ao nome (significa afraid, 
        em zulu, por causa dos crocodilos que o habitam) e deitou tudo por terra. 
        O River Lodge foi totalmente reconstruído. E no final de 2003 nascia 
        o Ivory Lodge, mais luxuoso, apenas com 6 suites. Com uma 
        atmosfera muito exclusiva, em que o design e o minimalismo 
        são traços fortemente presentes, apresentam apenas um problema: 
        ninguém quer sair dos quartos.
 
 Uma lança em África
 Abrindo as portadas dos quartos do Ivory Lodge de par em par, entramos 
        noutra dimensão. É certo que apenas uns metros de passadeira 
        separam os dois resorts, mas é outro universo este 
        que se perfila diante de nós. Na verdade, mais parece que estamos 
        a abrir o portão de uma propriedade  uma suite 
        de 165 m2 com vista directa para o rio Sabie, onde é costume ver 
        os animais beber água. Em frente, a primeira coisa com que os nossos 
        olhos esbarram é na piscina privativa, com água a transbordar, 
        em efeito cascata.
 
 Duas elegantes espreguiçadeiras de verga escura emolduram-na, de 
        cada lado. À esquerda, fica o quarto, espaçoso e muito bonito, 
        dominado por uma gigantesca cama de dossel branco, onde um círculo 
        de folhas e flores pousado em cima da colcha nos dá as boas vindas. 
        Por trás, subindo dois degraus, ficam os toucadores e os lavatórios, 
        com elegantes espelhos, velas e orquídeas, e a zona de banho  
        com um chuveiro, uma banheira de design moderno em forma de 
        metade de ovo (a lembrar as banheiras Starck), e o chuveiro exterior, 
        ao ar livre. Todas as portas são de correr e em vidro, 
        o que, além de proporcionar uma vista incrível, dá 
        uma sensação de profundidade  já que o espaço 
        é visto como um contínuo.
 
 Do lado direito fica a sala, com sofás creme, lareira, uma escrivaninha 
        com tomada para laptop, leitor de CD, e maxibar 
         o nome aplica-se, vendo o interior do frigorífico 
        forrado a champagne e Chardonnay, comida, fruta, chocolates, 
        etc
 Dominam duas cores: branco e negro  ou ébano e 
        marfim, a lembrar a letra de Paul McCartney: Ebony and Ivory live 
        together in perfect harmony
Há orquídeas naturais 
        semeadas um pouco por todo o lado e os pormenores decorativos, escolhidos 
        a dedo, cruzam o look de design e modernidade 
        com um toque africano. O resultado são esculturas, quadros, candeeiros 
        e fotografias a preto e branco que criam uma atmosfera única. Existe, 
        claro, um problema óbvio: é que com um espaço destes, 
        ninguém quer pôr o pé fora do quarto
 Até 
        porque existe uma portinhola na sala, com acesso da parte de fora, onde 
        as refeições podem ser deixadas, se quiser tomá-las 
        no quarto. Para casais em lua-de-mel, não há nada mais próximo 
        do paraíso. E de facto, é possível os empregados 
        esquecerem-se de que têm hóspedes em determinados quartos 
         não fosse o telefone tocar de tempos a tempos em busca de 
        repasto.
 
 Princesa por um dia
 Ora bem
 Não vamos em lua-de-mel, mas nada nos impede de usufruir 
        ao máximo da nossa (breve) estadia no Ivory
 Por isso, acendo 
        as velas dentro e fora de casa, aprecio o som das cigarras e dos pássaros, 
        ponho a água do banho a correr, junto sais à colher, e enquanto 
        estou de molho
 usufruo das condições de princesa por 
        um dia. A seguir ao jantar, quando chego ao quarto, tudo foi preparado 
        para uma noite de sono descansada. As luzes foram quase todas apagadas, 
        o aquecimento foi ligado, o dossel puxado para baixo, a cama aberta. Os 
        chinelos esperam, de lado, ao pé do leito, em cima do qual foi 
        escrito, com folhas e pedaços de erva cortada «Welcome to 
        Ivory Lodge». Na minha almofada repousa um caramelo, e ao deitar-me, 
        a macieza dos lençóis e a qualidade do colchão fazem-me 
        questionar se conseguirei voltar a dormir na minha cama. Aqui nada falha. 
        Não há lugar para o erro. Há bocado, ao jantar, perguntaram-me 
        qual a minha fruta preferida. Será o meu sumo, pela manhã.
 
 No dia seguinte, ao acordar, puxo os estores para cima e deixo-me ficar 
        no quentinho da cama a contemplar a vista sobre o rio, a vegetação 
        e a luz da manhã que estes janelões deixam entrar. Tudo 
        está quieto. Os pássaros acordam devagarinho, sacodem o 
        frio das asas. Salto da cama e vou descobrir o que é o meu pequeno-almoço. 
        Na portinhola que abro na sala, um tabuleiro aguarda, com um batido de 
        «fruta preferida» da véspera e um balde de prata cheio 
        de biscoitos. Perfeito. É com dificuldade que nos despedimos do 
        Ivory Lodge, mas outras paragens esperam. Rumamos agora para o Londolozi, 
        que significa, em zulu, protector de todos os seres vivos. 
        Aí, conheceremos Tom, o nosso ranger, ex-golfista profissional, 
        e teremos um contacto mais próximo com a cultura Shangaan, a comunidade 
        local da zona do Kruger.
 
 O Londolozi é uma propriedade privada de 10 000 hectares. Antigo 
        campo de caça, chamava-se Sparta e foi adquirido durante uma partida 
        de ténis, em 1926. Em 1973, os proprietários iniciaram-se 
        nos safaris comerciais, e pouco a pouco surgiram os quatro campos que 
        hoje compõem o Londolozi: o Bateleur Camp, onde estamos hospedados, 
        para 24 pessoas, o Founders Camp, para 12 hóspedes; o Tree Camp, 
        também para 12 pessoas; e o Pioneers, para o mesmo número. 
        Em 1989, o Londolozi começou a envolver a comunidade local, os 
        Shangaan, nos projectos de conservação e turismo. 160 membros 
        da tribo vivem numa aldeia construída pelo lodge 
        a 5 minutos de distância, com escola e clínica, num projecto 
        de cooperação de que faz parte, por exemplo, Mishak, o nosso 
        pisteiro.
 
 Mishak é Shangaan, por isso tem duas mulheres. A cultura poligâmica 
        é comum nesta comunidade. Um homem rico, como o chefe da tribo, 
        poderá ter seis mulheres, explica. E porque é que 
        tem duas mulheres, se pode ter mais?, perguntamos.  Ou por 
        que não tem só uma, para não aturar cenas de ciúme? 
        «Porque se uma adoecer, existe outra para tomar conta de mim», 
        remata, simplesmente. Tom, o nosso ranger, é um daqueles 
        guias divertidos e espirituosos, que conseguem transformar qualquer viagem 
        numa aventura. Mesmo que se tenha azar e não se vejam muitos animais, 
        arranja sempre maneira de dar uma lição de biologia ou de 
        história natural, ensinar-nos a distinguir pegadas de bichos, ou 
        divertir-nos procurando as constelações dos nossos signos 
        no céu do hemisfério sul. É uma pessoa muito comunicativa, 
        e o seu entusiasmo não engana: adora aquilo que faz. Ex-jogador 
        de golfe profissional, casado com uma professora de equitação, 
        os dois viviam na cidade e matavam-se a trabalhar para virem de férias 
        para o mato. Há um ano atrás, decidiram fazer o contrário: 
        passar um mês na cidade, e os restantes 11 no mato. Não se 
        arrependem.
 
 Por altura do pôr-do-sol, sem dizer nada, Tom conduz-nos para longe. 
        De repente, a seguir a uma curva, somos surpreendidos por um cenário 
        montado para nós: o lanche do fim do dia está alumiado por 
        candeias e velas; há uma mesa enfeitada com flores e geribérias, 
        champagne, Cabernet Sauvignon tinto e branco, morangos, queijos, xerez 
        e vinho do Porto. Que mais se pode querer?
 
 Milagre em fim de jornada
 A última etapa da nossa viagem é um lodge que 
        dá pelo nome de Singita  que quer dizer milagres, 
        em shangaan. Com um nome destes, era prenúncio de sorte certa. 
        Composto por dois lodges  o Ebony e o Boulders -, o 
        campo acumula prémios - mais do que merecidos, como constatamos 
        após ver os quartos. São tudo menos quartos 
        somente - têm sala, piscina privativa, deck, lareira, 
        e tudo num estilo irrepreensível. Há ainda a adega, que 
        contém o invejável recheio de 35 000 garrafas 
        (não, não é engano)! Peça ajuda a François 
        Rautenbach, o escansão que ali trabalha há cinco anos, perante 
        tanta escolha. Ele saberá aconselhá-lo.
 
 Ao jantar, veio o meu milagre. Sentados entre um milionário nova-iorquino 
        e outros homens de negócios, coube-me em sorte ficar
 ao lado 
        do piloto pessoal de Oprah, a conhecida apresentadora norte-americana. 
        Bob Kurksey, 66 anos, piloto da senhora há dez anos e meio, acaba 
        de se reformar. «Estas férias foram a prenda dela para mim», 
        diz, embevecido. Bob conhece como poucos o trabalho de solidariedade da 
        apresentadora em África, em particular na África do Sul 
         afinal, fez parte da sua equipa durante mais de uma década, 
        que a acompanha sempre ao terreno. De crianças seropositivas a 
        meninos abandonados ou maltratados, Oprah tenta chegar a todos através 
        da sua Angel Network.
 
 Desde que assisti a um desses programas e testemunhei as situações 
        e os desdobramentos que faz para ajudar quem necessita  ou quando 
        a vi entregar um cheque pessoal no valor de 40 milhões de dólares 
         tornei-me sua fã. Incumbo Bob de lhe transmitir a minha 
        admiração pessoal e que continue o bom trabalho. P.S: Uma 
        visita ao site pode ajudar a perceber que ainda há esperança 
        e que o mundo não está perdido, e podemos fazer algo por 
        ele. Despeço-me da África do Sul e dos seus milagres com 
        um Salakahle! - até breve, em Shangaan
 E com 
        a certeza de regressar...
 
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