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Admirável Costa Tica «…Nobre pátria, o teu pródigo solo (Excerto do hino da Costa Rica, um dos poucos países do mundo
que não tem exército) Se há coisa que pode ter a certeza de trazer na mala ao voltar de uma viagem à Costa Rica, é uma «barrigada» de postais e memórias visuais que chegarão para encher o baú das recordações por uns tempos valentes. Pela sua retina terão passado dezenas de animais - de macacos de cara branca a rãs verdes e amarelas, de araras e tucanos a crocodilos e iguanas, de guaxinins a preguiças, passando por borboletas de todas as cores. Nunca é demais relembrar que a Costa Rica é morada de quase 5% da biodiversidade do planeta, com 12.000 espécies de plantas, 850 espécies de aves, 350 de répteis, 130 de peixes, 3000 de borboletas, 200 de mamíferos e 40.000 de insectos… Ufa! O mesmo, quase, pode dizer-se a nível de praias: ao voltar, terá visto tantas e mergulhado em tantas outras, olhado para tantos pores-do-sol extasiantes, que na sua cabeça confundirá nomes e sítios, não sabendo já qual era «aquela praia perfeita, deserta, de enorme areal». A brincar, a brincar, 120 km de litoral dá até para enjoar… Reservámo-nos assim a árdua tarefa da selecção, para lhe dar apenas o «filet mignon», a «crème de la crème», ou qualquer outra metáfora culinária que lhe deixe água na boca. Aqui fica. «Isto é tudo nosso». É o que facilmente nos passa pela cabeça quando chegamos à Playa Grande, uma das primeiras praias da província de Guanacaste, na Península de Nicoya. A Praia Grande integra o Parque Nacional de las Baulas (tartarugas), um dos 21 parques naturais do país. À excepção dos pelicanos com quem repartimos o banho, e que nos dão o prazer de os ver mergulhar certeiros, direitinhos ao almoço, a Praia Grande é uma extensão de praia deserta, integralmente nossa. Quase por acaso, tropeçamos num viveiro de tartarugas do MINAE, o Ministério do Ambiente da Costa Rica. Aqui, encontra-se a estação biológica de um projecto de investigação sobre as tartarugas de couro («leatherback»), a espécie em maior perigo de extinção. Estas chegam a ter 1,5 metros de comprimento, e vêm desovar à noite, nesta praia. Por isso, a zona é protegida, e fecha das 18h às 5h da manhã – para que ninguém pise acidentalmente uma «baula» (tartaruga) ou roube os ovos, contribuindo ainda mais para a sua extinção. O viveiro pelo qual passámos é na verdade um recinto fechado onde a equipa de investigadores coloca os ovos de tartaruga que são postos na maré baixa, e resgatados da morte certa. Enterrados a 75 cm de profundidade, os ovos são controlados de 20 em 20 minutos, durante 24 horas, e vigiados durante a noite em permanência por dois membros que dormem ao relento – mostra da dedicação dos investigadores. A recompensa chega quando as tartarugas nascem, geralmente de noite e, se tiverem 17 cm, são levadas para a água, aumentando as suas possibilidades de sobrevivência. «Em cada 1000 tartarugas, apenas uma atinge a maturidade sexual e chega a pôr ovos», explica Gabriela Blanco, uma argentina da Patagónia que se encontra a fazer o doutoramento em biologia marinha sobre tartarugas. Este projecto de protecção das tartarugas tem 20 anos (pode saber mais em www.leatherback.org). Frank Palladino foi o seu fundador. Há duas décadas, o cientista veio para aqui, com o seu sócio James Spotilla, estudar as tartarugas. «Fomos os primeiros a pôr sinais de satélite nas ‘baulas’», explica. «Assim como fomos nós que descobrimos que o sexo das tartarugas dependia da temperatura dos seus ninhos». Frank lembra-se perfeitamente de, na praia de Tamarindo, uns km a sul, se assistir a uma desova de 100 tartarugas por noite… Mas isso era antes desta se ter convertido num pólo turístico, quando só havia dois hotéis e ainda não se tinha cortado a vegetação em volta. «Hoje, há zero desova de tartarugas em Tamarindo», assegura o professor catedrático norte-americano. E se não fossem este homem e este projecto, a Praia Grande poderia ser outra Tamarindo, cheia de gente, de hotéis, de turismo – e vazia de vida animal. Em 1993, o governo decretou a área em redor da Praia Grande «Parque Nacional Las Baulas», no seguimento da política de eco-turismo em que a Costa Rica apostou, da qual resultaram os 21 parques nacionais existentes hoje. Nessa década, o país promoveu-se como um destino amigo do ambiente, mas Frank afirma sem pejo: «a Costa Rica diz-se muito verde e ‘eco-friendly’, mas há outro verde que fala muito alto - o verde do dólar…» O norte-americano espera conseguir travar a fúria imobiliária, mas a pressão é imensa. Ainda por cima, «neste momento, os parques nacionais estão algo ameaçados, por falta de dinheiro», diz. Na verdade, basta andar pelas estradas para constatar a quantidade assombrosa de placas a dizer «vende-se». Por vezes, mesmo nos sítios mais inverosímeis, nos pontos mais elevados de uma montanha, há terrenos para construção de casas particulares ou condomínios de luxo com vista para o mar. Nomes tão familiares como ‘Remax’ ou ‘Century 21’ podem ser encontrados lado a lado com as mais belas paisagens. Por isso lhe dizemos: venha depressa, antes que isto mude… Venha depressa, antes que os americanos façam deste santuário ecológico a sua colónia de férias. Sodas e ceviche, «con mucho gusto!» Coroamos a tarde na esplanada de uma ‘soda’ (o nome dos
restaurantes locais), onde o ambiente é típico e o peixe
e marisco frescos. Com o som das ondas por embalo, degustamos um ‘ceviche’ (obrigatório,
sempre que estiver na América Central) e uma lagosta grelhada,
na esplanada da ‘Casita del Pescado’, na Praia Brasilito.
Um aviso: não deverá sair do país sem ter experimentado
duas especialidades locais: o «casado», prato composto por
peixe, carne ou marisco acompanhado por arroz e feijão, e ‘gallo
pinto’, um saboroso refogado de cebola e pimento com arroz e feijão,
servido essencialmente ao pequeno-almoço. Outra coisa certa é que
no fim de cada frase de um Tico que o atenda estará sempre um «mucho
gusto!». De estômago confortado e olhos saciados de novidades,
atiramo-nos ao descanso. Amanhã espera-nos mais um dia de estradas
de terra batida, trekking, aventura e muita descoberta. Empoleirado no topo de uma colina, escondido do resto do mundo por estradas de difícil acesso e floresta tropical seca, o Punta Islita é daqueles hotéis em que pode facilmente esquecer-se de tudo e ficar por ali o tempo que quiser. A propriedade espraia-se em altura. No topo, a recepção, que partilha o espaço com o restaurante 1492 e a piscina «infinita», cuja linha de água parece fundir-se com o oceano, tem uma vista incrível sobre o mar. Um baloiço debaixo de um telhado de colmo convida à evasão. A mesma vista, embora de um ponto mais baixo, é a que nos brinda de manhã, ao acordar na nossa villa de praia. Com dois quartos, uma sala, cozinha, e piscina privativa para quem quiser ficar de molho, as ‘villas’ permitem total independência. Lá em baixo, aos pés do monte, a praia espera por nós.
E Sol. Não o Deus egípcio, mas uma das instrutoras de ioga
que todos os dias se revezam aqui. Acredite, vale mesmo a pena fazer
uma aula (às 8h ou às 16h, por 20$) neste cenário
de verde, com os passarinhos a servirem de banda sonora. Uma excelente
forma de começar o dia - ou de pontuar a tarde -, na certeza de
que após a aula, um mergulho na água fresca vai saber-lhe
a ginjas. Na praia, decorre a preparação de um casamento
que ali vai acontecer, ao fim da tarde. O Punta Islita é bastante
procurado para celebrar bodas, especialmente por norte-americanos. Nem
de propósito, partilhamos a aula de ioga com Marcello Galli, o
oficiante de casamentos civis que vai oficializar a cerimónia,
ao pôr-do-sol. «São dois nova-iorquinos do jet-set,
que vão ter direito a anúncio no NY Times e tudo»,
conta-nos. Há muita procura de casamentos na Costa Rica, explica
Marcello, que faz isto há 8 anos. Já casou mais de 600
pessoas, cerca de 130 casais por ano, em cataratas, vulcões...
Do seu currículo faz parte até uma celebridade pop: a cantora
Pink, que casou em Janeiro de 2006, no Hotel Four Seasons Papagayo. O
casamento é válido por lei, garante o oficiante, que cobra
$750 por boda (o hotel cobra cerca de $1200). Se um dia decidir casar
na Costa Rica, já sabe… pode ser que o ‘padre’ Marcello
faça um desconto. Susan Money e Greg Mullins decoraram o exclusivo Florblanca com elementos balineses, estatuetas e Budas do sudeste asiático, e oferecem aos hóspedes as aulas de ioga (às 9h e às 16h) orientadas pelo italiano Stefano, que vive há 15 anos na Costa Rica. A piscina está rodeada de árvores ‘Plumeria’, que dão a flor branca na origem do nome do hotel, e tem uma cabana onde se podem fazer jantares privados ou simplesmente dormir uma agradável sesta na rede que lá existe. O Florblanca não aceita crianças com menos de 13 anos, mas se for esse o seu caso, tem uma boa alternativa logo ali ao lado. O Milarepa existe há dez anos, é da parisiense Caroline, tem quatro ‘bungalows’ em cima da praia e não tem restrições etárias. Com preços bastante mais acessíveis que o Florblanca, pode estar na piscina quando está maré alta, há massagens e aulas de ioga privadas. Na maré baixa, formam-se ali piscinas naturais, perfeitas para chapinhar na água e observar crustáceos. Malpaís é uma região muito gira, cheia de hotéis
pequenos e restaurantes simpáticos – como é mais
remota, está ainda bastante intocada. A Península acaba
em Cabo Blanco, a primeira Reserva Natural constituída na Costa
Rica, em 1963. É para lá que vamos, mirar o horizonte,
ali onde a terra acaba, pois aqui termina a primeira parte da nossa viagem.
Amanhã partimos para Quepos, conhecida sobretudo pelo Parque Nacional
Manuel António, uma das reservas mais visitadas do país.
Levamos os olhos e a alma cheios de paisagens e belezas sem fim, saciados
de gentileza Tica. Mas também a expectativa perante o que nos
reserva… ‘Top ten’ praias Guanacaste: Surf: |||||||||||||||||||||||||||||||||
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