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BLUE
TRAVEL No. 14 | JULHO 2004
TODOS OS TEXTOS
© BLUE TRAVEL |
KATYA DELIMBEUF
Berlim
Fusão
de duas cidades
Marcada como poucas capitais europeias pela destruição
e os espartilhos políticos, Berlim surpreende pela forma como conseguiu
recuperar o tempo perdido. Hoje, é uma cidade que exala
modernidade, arquitectonicamente impressionante, com movida nocturna.
Pouco a pouco, os centros da antiga Berlim Oeste e Leste fundem-se numa
grande metrópole.Poucas cidades terão as marcas da História
recente tão fortemente entranhadas no seu tecido urbano como Berlim.
Arrasada quase por completo pelas bombas da Segunda Guerra Mundial, usada
pela Guerra Fria como tubo de ensaio entre dois mundos e dois modelos
políticos, espartilhada por um muro que se manteve de pé
27 anos, Berlim tinha tudo para ser uma cidade descaracterizada. Com dois
centros até 1991 (quando a RDA e a RFA voltaram a unir-se numa
só) e um despique entre regimes gerador de enorme concorrência,
Berlim (Este + Oeste) tem tudo a dobrar, quando não a triplicar:
dois jardins zoológicos, duas óperas, três aeroportos,
fora as novas galerias em oposição às
velhas galerias que povoam a cidade. O cocktail
perfeito para uma salganhada arquitectónica: estilos
urbanísticos diferentes, uma gigantesca no mans land
em torno dum muro com 155 km de comprimento, que deixou, à sua
queda, inúmeros terrenos baldios. Como fazer disto uma e
uma só - cidade?
Face à tarefa titânica, o que parecia impossível aconteceu.
Por
Katya Delimbeuf / Fotos de Manuel Gomes da Costa
Quem
conheceu Berlim nos anos 90 não reconhece a Berlim de hoje. Onde
dantes havia um muro, erguem-se agora audaciosos complexos arquitectónicos
dos nomes mais
prestigiados da cena mundial. Onde antes era No Mans Land,
pulsa um novo coração da cidade. É certo, o fenómeno
ocorreu progressivamente e a capital alemã foi durante vários
anos um estaleiro de obras. Ainda são visíveis contrastes
e
assimetrias entre a antiga Berlim Leste e Oeste. Mas 27 anos de divisão
não se recuperam num dia.
O que mudou
Nos últimos oito anos particularmente, Berlim tornou-se terreno
de despique para arquitectos de renome e designers ansiosos
por pôr os primeiros traços num papel em branco. Em 1996,
os pátios da antiga zona judia começaram a ser recuperados,
dando origem a uma actual zona de restaurantes, bares e animação
nocturna - Hackesher Höfe. Nesse mesmo ano, o italiano Aldo Rossi
imprimiu o seu traço e cor a uma série de casas na Zimmerstrasse,
e
Jean Nouvel deu à cidade as galerias Lafayette, na Friedrichstrasse,
com a sua impressionante estrutura de vidro de 60 metros no interior.
De 1992 a 1997, foi a vez do projecto arquitectónico mais ambicioso
desde o fim do muro.
A Terra de Ninguém deu lugar à Potsdamer Platz:
25 biliões de dólares foram investidos e arquitectos tão
prestigiados como Renzo Piano, Helmut Jahn ou Moneo recrutados para transformar
a skyline da metrópole, dotando-a de uma fileira de
edifícios arrojados e modernos. Em 1999, Norman Foster deu o seu
contributo de modernidade à cidade, com a reconstrução
da cúpula do Reichstag. Seguiu-se Frank O. Gehry, com a construção
notável do Banco DG, nomeadamente o seu interior, uma escultura-instalação
em vidro e metal - segundo ele, a sua «forma mais bem conseguida».
Junte-se-lhe o incrivelmente audacioso Museu Judeu de Daniel Libeskind,
construído em 2002, que atraíu 350 000 visitantes antes
mesmo de estar aberto ao público, a nova ala do Deutsches Historisches
Museum (Museu Histórico
Alemão), do arquitecto japonês I. M. Pei-Bau, ou a nova Embaixada
da Holanda, de Rem Koolhas, e temos... o paraíso para qualquer
fã de arquitectura ou arte moderna. É verdade...! Há
ainda a Nova Galeria Nacional, do mestre da Bauhaus Mies van der Rohe,
que alberga até Setembro uma colecção de 200 obras
do Moma de Nova Iorque. E outros museus, como o Vitra e o Bauhaus... Só
resta dizer: «Estudantes e apreciadores de arquitectura, design
e arte moderna, uni-vos e vinde a Berlim!
Passeio por uma nova cidade
Não são muitas as marcas do passado em Berlim. Do muro resta
apenas uma fina coluna, na vibrante Potsdamer Platz, e ao lado uma placa
com as datas da sua construção: 1961-1989. No chão,
duas linhas de empedrado atravessam as ruas, lembrando que ali estão
27 anos de História e de divisão: «De um lado Berlim
Oeste, do outro Berlim Leste», explica um pai aos filhos, pulando
de um lado para o outro. Hoje, a ideia de um muro poder dividir um povo,
e famílias, durante quase três décadas, parece-nos
estranha, absurda... Mas o facto é que ele existiu...
No caminho do aeroporto para a cidade, uma taxista conta-me a história
de uma família dividida pelo muro e por dois regimes políticos
a dela. Os avós desta berlinense ocidental viviam na RDA
e todos os anos ela lá ia passar férias. No ano do seu 4º
aniversário, em 1961, o muro foi construído e quando ela
quis
regressar, não pôde. Os pais tiveram de escrever inúmeros
requerimentos para a ter de volta, o que só aconteceu após
muita insistência. Ela conhece bem as dificuldades que os Ossies
(do Ost, Este) tiveram após a reunificação
das
duas Alemanhas, em 1991. «Para a geração que tem hoje
40, 50 anos e viveu na RDA, tudo isto (a reunificação, a
transição para uma economia capitalista, de mercado) foi
muito difícil. O modelo ocidental foi-lhes imposto, esmagou-os.
Mas para a próxima geração, penso que a Alemanha
será melhor».
Da mesma forma, apenas uma torre de vigia sobreviveu, das dezenas que
existiam de 300 em 300 metros ao longo dos 155 km de muro. Onde antes
era o no mans land, agora erguem-se os enormes hotéis
Marriott e Ritz Carlton e a moderníssima Potsdamer Platz. Composta
essencialmente por dois edifícios - a praça Sony, projectada
por Helmut Jahn, com a sua estrutura metálica e em tela branca,
desenhada para parecer o monte Fuji, e o recinto da Daimler Chrysler,
em frente, da autoria de Renzo Piano -, esta praça é um
dos conjuntos arquitectónicos mais impressionantes da nova Berlim
do século XXI. Na Potsdamer Platz respira-se vida e modernidade.
A fileira de edifícios por trás do edifício da Daimler
Chrystler, então, é de ver e chorar por mais. Treze arquitectos
(Richard Rogers, Renzo Piano, Moneo, Kolhof ou Arata Isozaki) projectaram
este complexo, das mais variadas formas e feitios. São edifícios
cilíndricos, triangulares, de vidro, de tijolo, amarelos, que fazem
desta avenida um verdadeiro colírio para os olhos.
Sente-se no relvado em frente, a apreciar e segure o queixo, se
conseguir.
Em 1993, esta zona era um deserto gigantesco. Hoje, são 550 000
m2 de escritórios, hotéis de luxo, um casino, um museu do
cinema, restauração e habitação, todos os
dias visitada por cerca de 70 000 pessoas. Maior transformação
era impossível.Sub-título: 1 + 1 = 1?
Se há coisa que não se pode dizer de Berlim é que
seja uma cidade homogénea.
Espraiada, dispersa, grande, é difícil tomar-lhe o pulso
à primeira. Do topo da torre de televisão da antiga Berlim
leste (a Fernsehturm, construída em 1969), a 200 m de altitude,
é fácil constatar isso mesmo. Foram duas cidades que se
fundiram numa, dois centros separados que tiveram de se juntar. Os antigos
centros deslocaram-se. A Alexander Platz - Alex, como lhe
chamam carinhosamente os berlinenses -, antigo centro de Berlim Leste,
morreu. Outros, como a Potsdamer Platz, nasceram do zero. Com a construção
do muro, em 1961, o coração de Berlim ocidental deslocou-se
para a área do Jardim Zoológico e da KuDamm, a avenida
comercial das lojas finas. Hoje, o coração bate de novo
em Unter den Linden, a avenida mais famosa de Berlim, encimada pelas portas
de Brandenburgo. Berlim ficou maior - a área metropolitana tem
3,5 milhões de habitantes - e culturalmente mais rica, mas também
mais assimétrica. Há ilhas de modernidade, de arquitectura
vibrante, como há terrenos baldios, prédios altíssimos,
blocos de apartamentos, zonas descaracterizadas, instituições
a dobrar que deixaram de ter uso e cujo destino é preciso resolver.
São muitos os motivos de interesse em Unter den Linden (que quer
dizer, literalmente, Dabaixo das Tílias), esta avenida
que o Rei Frederico II - que só falava francês, por achar
que era a língua erudita, e guardava o alemão para os cavalos
tinha esperança se tornasse uma espécie de Campos
Elíseos alemães. Mas o nosso enfoque vai para duas coisas
essencialmente: o Reichstag, com a incrível cúpula de Norman
Foster, e o Banco DG, de Frank O Gehry, com o seu interior absolutamente
estonteante, na Pariser Platz (Praça de Paris).
A experiência do Reichstag é
inebriante e imperdível
É verdade, a fila é longa mas a espera vale a pena.
Cá em cima, no topo, a vista panorâmica, com quatro possibilidade
de passeio graças à construção de corredores
laterais, como numa escada em caracol é talvez, a
par da Torre de Televisão, a melhor vista da cidade. Acresce que
a cúpula de vidro e aço tem no seu centro um cone em espelho,
o que cria efeitos muito bonitos e percepções da cidade
sempre diferentes, consoante o nosso próprio movimento. No topo
da cúpula, sente-se e aprecie. Daqui consegue ver tudo, como a
obra de Frank O Gehry, no Banco DG, ao pé das Portas de Brandenburgo.
O que é aquilo? Parece um peixe... em metal espelhado...Por trás
de uma fachada banalíssima, na Pariser Platz, às Portas
de Brandenburgo, o Banco DG esconde um tesouro impressionante: uma obra
de arte de Frank O Gehry, concluída em 1999, que tem de ser vista
de perto para acreditar. O telhado é uma gigantesca
estrutura de vidro e aço, em forma de concha, e o auditório,
no piso de baixo, está coberto pela mesma estrutura, no mesmo movimento
côncavo como um casco de vidro. No meio, enorme, uma forma
em metal, oca, arredondada. Alguns dizem ser um peixe, outros uma espécie
de criatura viva - para Gehry, «a melhor forma que fiz
na vida».
O complexo judeu
Qualquer visita a Berlim ficaria incompleta se não incluísse
o Museu Judeu, no bairro de Kreuzberg, um edifício incrível
quer pela sua concepção, como pela sua estética,
executado pela mão (divina) de Daniel Libeskind, em 2002. Toda
a construção, em folha de metal, cortada em formas geométricas,
triangulares, com janelas rasgadas a todo o comprimento, na diagonal,
nos sítios mais inesperados, foi pensada para afectar o visitante.
Aqui reina o jogo das formas, das assimetrias, dos desequilíbrios
propositados, magistralmente executados no Jardim do Exílio ou
na Torre do Holocausto. No primeiro, o chão é inclinado,
para transmitir ao visitante o desequilíbrio e a desorientação
do povo judeu na sua diáspora forçada. É fácil
perder-se no labirinto constituído pelas 49 colunas de cimento,
como jarras gigantes, onde estão aprisionadas árvores, das
quais apenas os ramos cimeiros espreitam. 48 têm terra de Israel
e uma terra de Berlim.
A Torre do Holocausto, no interior do museu, destina-se à meditação.
Pretende reproduzir as sensações dos prisioneiros dos campos
de concentração antes de serem gazeados. É um espaço
muito alto, completamente vazio, sem luz outra que não uma estreita
frincha lá no alto, pela qual passa também o som da rua.
Uma pesada porta fecha-se atrás de nós, e quando se torna
a abrir, muitos regressam emocionados. Magistralmente executado, o museu
vale mais pelo edifício em si que ainda vazio atraía
romarias - do que propriamente pelo seu acervo. Não é de
somenos lembrar que Daniel Libeskind, polaco, é filho de um sobrevivente
do Holocausto, tendo perdido a maioria da sua família no conflito.
O facto não foi com certeza alheio à sua escolha para conceber
este museu, num país ainda muito marcado pelo complexo de culpa
em relação aos judeus.
Dois exemplos: em frente à Potsdamer Platz, o bunker
onde Hitler se suicidou foi totalmente arrasado. Do antigo edifício
da Gestapo, na antiga Prinz-Albrecht-Strasse, resta apenas parte das celas
na cave. Aí se instalou uma exposição de fotografia
permanente, intitulada Topographie des Terrors. O único
edifício de construção nazi que sobreviveu foi o
ministério aeronáutico, de Göering, na antiga Wilhelm
Strasse, onde se situavam todos os edifícios do 3º Reich. Hoje,
é o actual Ministério da Fazenda, com 2400 salas - o que
traduz bem a megalomania nazi. Os berlinenses não querem nada que
lhes lembre o nazismo - bem pelo contrário. Multiplicam-se os memoriais
ao povo judeu, como o dirigido pelo arquitecto nova-iorquino Peter Eisenman,
ao pé da Potsdamer Platz, que deverá estar completo no primeiro
semestre de 2005. São 19 000 m2 onde assentam 2700 blocos de cimento,
como lápides, por entre os quais as pessoas poderão passear.
Hoje ainda, o complexo de culpa alemão está bem presente.
E daí a razão do povo alemão ser tão pacifista.
Resquícios de um regime
No antigo centro de Berlim Leste, a Alexander Platz e a Karl-Marx-Allee
(a avenida larguíssima onde se faziam as paradas comunistas) transpiram
decadência. Hoje totalmente descaracterizada, a zona mantém
os edifícios tipicamente soviéticos dos anos 50, monotonamente
iguais, cinzentos, opressivos, ou os blocos de apartamentos creme com
relevos na fachada. A área é monumento protegido, construída
ao abrigo do Programa Nacional de Reconstrução da RDA, entre
1952 e 1956. De interesse, restam apenas alguns murais soviéticos,
o Kino International, antigo cinema de Berlim Leste, e o Kafé Moskau,
com a sua magnífica fachada socialista - um belíssimo café,
enorme, com chão de mármore e candeeiros de design,
hoje completamente vazio.
Mas à excepção do centro, tudo o resto na antiga
Berlim oriental está vivo. O bairro de Prenzlauer Berg transborda
de artistas e de cultura alternativa e é o centro da movida
nocturna.
Kreuzberg alberga a cena punk e gay, e Hackesher
Höfe, o conjunto de pátios dos anos 20, recuperado a partir
de 1996, é hoje um enorme centro de diversão nocturna. É
na antiga Berlim Leste que se situam os sítios mais cool
para saír à noite, da Oranienburger Strasse à Kastanienallee,
a avenida das lojas de roupa em segunda mão, das lojas de discos,
dos bares cool e das galerias de arte, em Prenzlaeur Berg.
Este é o terreno das festas improvisadas, nas caves e nos R/C,
da gente jovem e criativa - ainda reflexo do ambiente vivido após
a queda do muro. As pessoas com pouco dinheiro instalaram-se aqui, onde
as rendas eram mais baratas, e isso deu origem a uma movida
artística. Era comum ocuparem-se sítios e fazerem-se festas
espontaneamente, algumas ilegalmente, outras em salas de condomínio
emprestadas pelos senhorios.
O Kohlen Quelle, na esquina da Kopenhager Strasse, em Prenzlauer
Berg, é um resquício disso. Este café de bairro,
uma antiga loja de carvão, abriu «legalmente» há
dois meses, explica-nos Jenny, uma suíça a viver em Berlim.
Na cave deste café, todas as quartas-feiras há uma festa.
Não é preciso muito para fazer a decoração:
móveis em segunda mão, com um look retro/decadente
- «uma forma de manter a História». Porque há
quem ache que a reunificação também veio atenuar
traços culturais identitários, de um lado e de outro. Também
o Klub der Republic, na Pappenallee, muito popular aos fins-de-semana,
quando recebe a banda de djs Jazzanova, comprou a mobília
toda do Café Moskau, que acolhe as festas WMF, no piso de baixo.
A sigla WMF, hoje sinónimo de cool, tem origem no nome
de uma fábrica de cutelaria abandonada, onde se fizeram as primeiras
festas pós-queda do muro. A partir daí, a sigla pegou.
Vai uma festa?
A noite de Berlim é afamada. Os berlinenses reclamam para si a
naturalidade da música techno, no início dos
anos 90, por alturas da queda do muro, mais precisamente na discoteca
Trésor. Expoente máximo disso é a Love
Parade, o
festival de música electrónica que todos os anos enche as
ruas aos milhares. Apesar de se ter tornado conhecida em finais da década
de 90, esta existe desde 1991, quando não tinha mais de meia dúzia
de participantes.
A movida nocturna e a cultura alternativa são marcas fortes de
Berlim, mas as festas e os bares na antiga Berlim Leste e Oeste são
bem diferentes.
Enquanto na ex-parte ocidental os bares são mais selectos, com
preocupações de design, para um público
chicky micky (expressão local que quer dizer gente
arranjada, com dinheiro), como os Universum Lounge, o Victoria Bar ou
a discoteca Cookies, no antigo leste passa-se exactamente
o inverso. O registo é mais trashy (linguagem local,
ainda) e a ideia que impera é quase quanto mais degredado,
melhor. O Tacheles, na Oranienburgstrasse, é um bom exemplo.
Prédio semi-
destruído pela guerra, okupado por artistas, foi mantido
assim e transformado em galeria de arte em permanente evolução.
Do Tacheles saíu até um movimento artístico, subsidiado
pelo governo.
Com quatro andares de paredes inteiramente graffitadas, e ar de filme
do Bronx, os pisos térreos estão ocupados por instalações
de vídeo, exposições ou esculturas. Para o Berlinense,
este é já um local turístico, mas ir lá à
noite, subir por aquelas escadas cheias de graffitis, e chegar
ao bar para beber um copo ao som de um dj em frente ao seu
Mac, a fazer boa música electrónica, é uma experiência
que aconselhamos.
Talvez aquilo que mais nos fica de Berlim seja este povo, organizado e
culto, e a sua coragem. Um povo que, apesar de tanta adversidade, deu
sempre a volta por cima. Que sofreu as bombas, a guerra, a divisão
durante 27 anos, a fome, o frio, e o ódio de meio mundo - e apesar
disso conseguiu reerguer-se, reconstruír-se, reinventar-se a ponto
de ser hoje uma das capitais europeias mais arquitectonicamente interessantes.
Foram berlinenses da têmpera de Albert Einstein, Marlene Dietrich,
Bertolt Brecht ou Herbert von Karajan - mas também os anónimos
-, que fizeram JFK pronunciar as palavras «Ich bin ein Berliner»,
num discurso que ficaria célebre para a História. Nessa
altura, em 1963, John Fitzgerald Kennedy não percebeu certamente
de que ria a multidão. A multidão ria do facto do Berliner
ser um bolo local, embora tenha sido sempre vendido como um
produto americano: o donut. Na verdade, quando Kennedy disse
«Eu sou um donut», queria dizer «Eu sou um berlinense».
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