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BLUE TRAVEL No. 6 | Novembro 2003



TODOS OS TEXTOS © BLUE TRAVEL | KATYA DELIMBEUF


Manchester
Sem fumo nas chaminés


Longe do estereótipo das fábricas, do fumo e das chaminés – herança da Revolução Industrial -, Manchester respira hoje um ambiente cosmopolita, cheio de vida e vibração. Paradigma de modernidade, a cidade já vai marcando o ritmo das novas tendências do Reino Unido.

Por Katya Delimbeuf / Fotos de Constantino Leite

É a vibração, sobretudo, o que mais nos fica da cidade. Manchester-industrial, com todos os estereótipos a ela associados - fumo, fábricas e chaminés -, já não existe. Os antigos armazéns de algodão transformaram-se em arejados hotéis de ‘design’. A degradada zona industrial alberga agora complexos de arte e museus de arquitectura audaciosa. A linha do horizonte encheu-se de edifícios de vidro e alumínio que rompem com as formas tradicionais. Manchester mudou. Já há museus e pontes com assinatura de nomes sonantes como Daniel Libeskind ou Santiago Calatrava. Nas galerias de arte, nos museus do século XXI, mas sobretudo, nas pessoas de todos os dias - que são quem realmente faz a cidade -, Manchester transpira modernidade. A ‘culpa’, asseguram os locais, é em parte dos ‘Commonwealth Games’, decorridos o ano passado. Foram o ponto de viragem da cidade – a seguir, o número de visitantes nunca mais parou de aumentar. O dinheiro investido na recuperação do tecido urbano e na criação de espaços de raíz, fez com que, mesmo para os ‘mancunianos’ (o nome dos nativos), a cidade tivesse ficado irreconhecível. Muitas das novas estruturas - a reconversão do parque industrial, a construção do Lowry Pier, em 2000, do Imperial War Museum, em 2001, do Urbis, em 2002 - são extremamente recentes. Nesse sentido, Manchester é uma cidade do século XXI. Mas é também um local pleno de História. Um local onde os edifícios antigos cotejam as construções modernas. Onde o vidro convive com o tijolo laranja da região. Em Manchester, passado e futuro cruzam-se – no presente.
É, ainda, uma cidade com personalidade forte, cuja rebeldia e vanguarda têm causas históricas: foi aqui que nasceram o movimento sufragista, em 1903, os sindicatos, as primeiras ligas de futebol profissional, e até o vegetarianismo... (Em 1880, havia cinco restaurantes vegetarianos em Manchester!) Os mancunianos são portanto uma estirpe rebelde - e resistente. Conheceram os bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial, no Natal de 1940, e as bombas do IRA, em 1996. Mas reconstruíram-se e renovaram-se. Como a fénix que renasce das cinzas, Manchester saiu do fumo e dos estilhaços.

A colmeia
Não será certamente por acaso que o símbolo da cidade é a abelha. Tudo aqui fervilha, como uma colmeia atarefada. Manchester é já uma pequena Londres, com o que isso implica de cosmopolitismo, mas ainda tem a grande vantagem de se poder percorrer a pé. As 2,5 milhões de abelhinhas que vivem no centro da cidade têm todas as raças, cores e cortes de cabelo. Há cabeças louras, ruivas, negras, rosa, verde ou violeta, ‘rastas’ e ‘dreadlocks’, franjas cuidadosamente esquartanhadas por cabeleireiros ‘XPTO’ (e são muitos) para parecerem trágicos erros caseiros. O penteado de David Beckham é muito popular entre os rapazes, no seu ‘estilo eriçado’. As raparigas sobrepõem saias e calças, usam sapatos brancos ou verdes de salto alto, exploram a cor em todas as suas possibilidades.
Há orientais, indianos, africanos, um ‘melting-pot’ de culturas - umas ainda do tempo em que as comunidades imigrantes se fixaram na cidade, por alturas da Revolução Industrial; outras já da era em que as três universidades fizeram de Manchester um dos maiores pólos estudantis da Europa, com mais de 84 000 alunos. Há, de facto, muitos jovens na rua, que combinam a roupa das formas mais incríveis. Aqui, nenhuma peça tem data: o armário esquecido de casa da nossa avó é passível de ser reciclado. Sejam dos anos 70, 80 ou 90, o que interessa é que as roupas ajudem a criar um ‘look’ próprio, sempre urbano, quase sempre ‘streetwear’. Eles são os únicos que ditam a sua própria moda. Criatividade é a palavra de ordem.

Mini-saias e ‘stilettos’
Chovia, na noite em que chegámos - mas isso não impede ninguém de saír em Manchester. A cidade tem uma longa tradição de ‘movida’ nocturna e de ‘clubbers’ convictos, e esteve sempre na linha da frente, na área da música. Juntem-se uns milhares de estudantes, uma pitada de álcool, duas colheres de sedução e temos... festa! E rija! Passam em bandos, aos grupos de cinco e mais, em direcção ao som e às luzes. Elas - de guarda-chuva numa mão e mini-saia milimétrica na anca, e quilométricos saltos-agulha, a desafiar o equilíbrio - manifestam o mais absoluto desprezo pelo frio, orgulhosamente ostentado no decote, nas alças, nas pernas ao vento e na ausência de casaco. ‘Toilette oblige...’ Eles, deliciados com o panorama, seguem os estímulos visuais e hormonais... até onde elas deixarem. Mary Quant ficaria feliz de morar em Manchester. Com ou sem pernas à altura, aqueles 20 cm de tecido são ‘tenue’ obrigatória.
Existem várias ‘frentes da batalha’ na noite mancuniana: Deansgate Locks, uma zona recente - existe desde 2000 -, está muito na berra. Aí alinham-se uma dúzia de bares ‘trendy’, numa espécie de docas lisboetas em versão melhorada. É o sítio para encontrar gente bonita e produzida e aspirantes a ‘starlettes’. Há depois o Gay Village, ao longo de Canal Street, uma parte da cidade dedicada à comunidade ‘gay’ – que é significativa. É para lá que vão os que procuram um ambiente mais descontraído e menos aprumado que em Deansgate Locks (heterosexuais incluídos), quando se quer dançar pela noite dentro. Há ainda Curry Mile, uma zona de bares e restaurantes onde os mancunianos cumprem a estranha tradição de comer caril (daí o nome) depois de saír à noite, para queimar o álcool no organismo. E finalmente o Printworks, uma área coberta que abriu há dois anos e meio, onde é impossível circular aos sábados à noite – para se ter uma ideia, a média de pessoas em ‘época baixa’, é de 80 000 por noite, e em ‘época alta’, de 125 000.
Vamos então por partes – ou por noites. Deansgate Locks é o sítio mais selecto, onde encontramos as raparigas mais produzidas e ‘bem despidas’. O mais cobiçado de todos os bares é o Sugar Lounge Café, onde só entram sócios, para manter o «bom ambiente», onde os porteiros são guarda-costas privados de cantores e actores, onde a mobília tem assinatura de ‘designer’ e onde é comum ver entrar figuras como David Beckham, a ‘ex-spice girl’ Mel C., o cantor Justin Timberlake, ou, mais recentemente, o nosso/deles ‘enfant terrible’, Cristiano Ronaldo.
Existem, no entanto, outros sítios que valem a passagem: o Fat Cat Café, pelo ‘design’ do espaço, o Baa Café, pela boa música e bom ambiente, o Loaf, pela fila de espera à entrada que prenuncia uma grande noite, e o Revolution, o bar da moda. Cheio que nem um ovo, tem miúdas produzidíssimas, de vestidos superlativamente curtos. Escolhemos a escadaria, ao lado do bar, como posto de observação, e o olhar detém-se de imediato num grupo de raparigas orientais. São jovens, muito atrevidas e ensaiam poses provocantes na pista de dança. À vez, cada uma ocupa o seu lugar num degrau da escadaria, apostadas em deliciar a assistência masculina. A noite aquece, os ‘shots’ ajudam. Passada a careta do trago, o limão ajusta-se aos lábios, toma o lugar do sorriso e ajuda a descontraír. Encontrá-los-emos mais tarde durante a noite, em grande euforia, posando para a objectiva do fotógrafo, aos brados de «Portugal! Portugal!»
Próxima paragem: Gay Village. O arco-íris lá está, nas bandeiras à entrada dos bares, nas riscas das mesmas cores nas paredes, nos pares do mesmo sexo trocando carinhos. O ambiente da zona ‘gay’ é ‘friendly’, mas não se aconselha a mentes fechadas – os heterosexuais são, ali, a imensa minoria. No entanto, muitos são os que preferem as discotecas do Gay Village, como a Essential, para dançar. Nós recomendamos o Via Fossa, o Baa Bar, e o novíssimo Autobahn (com apenas três semanas), pelo ‘design’ dos interiores.

Pop, retro e vinil
Não é difícil perceber porque é que o filme de Michael Winterbottom se chama ‘24 Hour Party People’. A película, que tem Manchester e a cena musical de que esta foi palco por pano de fundo, é bem demonstrativa do espírito que lá se vive. É impossível falar de Manchester sem passar pela música. A cidade parece produzir bandas quase por geração espontânea: foi aqui que nasceram os Stone Roses, os The Smiths, os Oasis – mas também os Joy Division, os New Order ou os Happy Mondays, que conheceram o apogeu com a ‘Hacienda’, a discoteca de culto retratada no filme.
O seu proprietário, Tony Wilson, um repórter local frustrado desejoso de deixar a sua marca no mundo, decidiu tornar-se ‘manager’ de bandas após assistir a um concerto dos então desconhecidos Sex Pistols. Criou a etiqueta Factory Records e o Hacienda Club, e tornou-se uma espécie de herói local. Actualmente é pivô de televisão. A Hacienda, verdadeiro marco de Manchester e ponto de passagem obrigatório, foi demolida e remodelada em ‘lofts’ de luxo, pagos a peso de ouro.
Há até quem diga que a música substituiu o algodão como principal produto de exportação da cidade. Na verdade, essa herança está entranhada na malha urbana, nas inúmeras lojas de discos que povoam o ‘Northern Quarter’, o bairro ‘alternativo’/independente/criativo. Picadilly Records, Vynil Revival, ou Fat City Records (especializada em ‘hip-hop’) são algumas em que vale a pena entrar.
É ainda no Northern Quarter que encontramos o imperdível Afflecks Palace. Cinco andares de lojas independentes, com todo o tipo de indumentárias, para todo o tipo de tribos. Todas as cores e formatos estão aqui: de roupa ‘retro’ a malas da Hello Kitty, de ‘T-shirts’ cuidadosamente rasgadas a outras com alfinetes, furos e agrafos; demalas com picos de borracha a bandoletes com corninhos de demónio e camisolas com frases irónicas como «Nobody knows I’m a lesbian». Há todo o tipo de penduricalhos que caem do tecto, lojas inteiras de missangas para o cabelo, ‘posters’, ‘badges’, ‘pins’...
Roxi Watson é dona da loja de roupa de noite mais excêntrica do sítio. A ‘Strawberry Peach’ tem ‘tops’ de plástico amarelo fluorescente, calçõezinhos rosa ‘choc’ e ‘caneleiras’ (?) de pêlo a condizer, para usar do joelho até aos pés. Foi dançarina de discotecas durante muito tempo, mas com a idade deixou de dançar. Agora, vende roupa para os ‘clubbers’ ferrenhos, os seus principais clientes. Aqui, nenhuma das lojistas é só aquilo que parece: no andar de cima, Lois MacDonald, uma lourinha de popa rosa, com 20 anos e ar doce, tem uma banda de ‘punk rock’. Faz umas horas na loja Peep Show, no tempo livre que lhe deixa o seu curso de ‘Media Production’.
Uma rapariga passa por nós com ar meio abananado. «Acabo de fazer uma tatuagem», explica. «Qual, esta?», pergunto ingenuamente, ao ver uma chama laranja brotar-lhe do decote. «Não... Essa é antiga. Esta!», diz, tirando o casaco e mostrando o braço direito embrulhado em papel celofane. Por baixo, dezenas de pegadas de dálmatas. Para além de tatuagens, ali também se fazem ‘piercings’, extensões ou madeixas, de todas as cores do arco-íris.
À saída, não deixe de passar na Pop Boutique, uma loja de roupa ‘retro’ com decoração dos anos 70 que é também loja de discos, restaurante vegetariano e cabeleireiro. A gerente, Melanie Hudson, tem nos estudantes, ‘skaters’ e dj’s os seus principais clientes, e como toda a gente no Northern Quarter, faz outra coisa para além de lojista: é dj no Disco Rescue, em Deansgate, aos sábados à noite. Um pouco mais à frente, em High Street, o Oklahoma é outro lugar que sintetiza o espírito deste bairro. Faz as funções de café, loja de decoração, loja de discos, e tem uma galeria de arte, no andar de baixo. Para além dos quadros nas paredes (pintados pelo namorado da proprietária, Neil Robbins) e dos apetrechos do ‘dj’, o mais interessante é que pode espreitar, através de ‘buracos’ escavados na parede, o ‘atelier’ do pintor e a cabina do ‘disk jockey’. O chão foi feito com quatro toneladas de borracha de botas Wellington, e a bancada, em cima, de garrafas de detergentes reciclados. Vende-se mobiliário de ‘design’, reina a cor na loja de decoração. «A diferença deste sítio?», pergunta a proprietária, Nicola Payne. «A atenção ao pormenor». É um facto. Entre na casa-de-banho e perceberá o que ela quer dizer.

Interactividade e multimédia
Há pelo menos três outras coisas ‘obrigatórias’ em Manchester: o Urbis, o Imperial War Museum (museus), e o Lowry (complexo de artes). Guarde os dois últimos para um dia muito bem passado nos Salford Quays, o regenerado parque industrial, um pouco afastado da cidade, e tire outro para ir a Chetham e ao Urbis. Aí, descobrirá o que é um museu do século XXI.
Integrado no ‘Millenium Quarter’, atingido pela bomba do IRA em 1996 - hoje o bairro das compras e das lojas finas - o Urbis rasga completamente o horizonte da cidade, com a sua arquitectura em diagonal. Desenhado por Ian Simpson, arquitecto de Manchester, recentemente acabado em 2002, o Urbis é um museu sobre as cidades e os efeitos que estas provocam nas pessoas. Mas é na diferença dos suportes da informação, todos interactivos e multimédia, que reside a sua mais-valia. São quatro andares de filmes e ecrãs accionados por toque, luzes e sons que chamam por nós, vídeos que seleccionamos e controlamos com um pé, telefones que tocam para que os atendamos, copos colados a paredes para que ouçamos conversas e espreitemos por buracos da fechadura. Tudo interage connosco, e apesar de ser muita informação, torna-se um desafio apreendê-la.
É ideal para passar uma tarde. Pode até almoçar por lá e nesse caso, tem duas opções. No topo do Urbis instalou-se o celebrado ‘Le Mont’, restaurante de cozinha francesa contemporânea com uma vista privilegiada sobre a cidade. O ‘chef’, Robert Kirsby, é garante de qualidade. Em alternativa, pode almoçar cá em baixo, no café, onde a ementa, também escolhida pelo ‘chef’, assegura óptimas (e comprovadas) refeições, com vista para Cathedral Gardens, onde ao sábado à tarde os góticos transformam o verde da relva numa enorme mancha negra.
Evidência de que o passado e o futuro convivem em Manchester de forma exemplar é, mesmo ao lado do Urbis, a biblioteca de Chetham. O edifício mais antigo da cidade remonta a 1421 e esconde um pormenor de História absolutamente delicioso. Numa mesa a um recanto da biblioteca, sabe-se, pelos registos dos livros requisitados, que Marx e Engels – em pessoa - discutiram ideias para o Manifesto Comunista. Engels viveu, aliás, 21 anos em Manchester. Era gerente de uma fábrica e enviava regularmente dinheiro a Marx, para que este pudesse viver exclusivamente da escrita. Dizia que o mundo tinha mudado e que a prova disso era as chaminés terem passado a ser mais altas que os palácios e as igrejas.

Modernidade à beira-rio
Salford Quays. Antes de embarcar, tome fôlego e prepare os sentidos, porque vai dar-lhes muito que fazer... É difícil, pensar que há três anos apenas, tudo isto eram armazéns e docas. Um pouco à semelhança da nossa Expo 98, a área foi recuperada e é hoje uma privilegiada zona de lazer. Comecemos pela arquitectura - quer a do Imperial War Museum, um gigante de alumínio de formas cortantes, assinado pelo mundialmente famoso Daniel Libeskind; quer, do outro lado do rio, a do Lowry Pier, um complexo arquitectónico dedicado às artes, de tempos a tempos denominado como o «Salford Guggenheim», pelas suas parecenças com o primo espanhol.
Sugerimos-lhe que passe a manhã no Imperial War e almoce no Lowry, melhor apetrechado para lhe proporcionar uma refeição simpática, dizemos nós. Parece o dorso de um rinoceronte, com o seu grande corno a meio, mas a ideia na base da arquitectura do ‘Imperial’ é bem mais elaborada que isto: os três eixos simbolizam os principais modos de combate: ar, água e terra – ou aviação, marinha e infantaria. Esta é, segundo Libeskind, a forma que a Terra assumiu depois da guerra, após ter sido uma só, una e redonda. A forma actual seria a de um mundo dilacerado.
Este é um museu sobre a guerra e os seus efeitos na vida das pessoas. Manchester sabe do que fala, já que conheceu na pele as bombas e o racionamento, na segunda Guerra Mundial. Há três filmes excepcionais, que valem muito a pena - um por hora – sobre a guerra e as crianças, as causas da guerra, e o armamento bélico. Têm imagens belíssimas e beneficiam do suporte em que são mostradas - nove ecrãs de vários metros de altura, onde as imagens projectadas ganham muita força. Há ainda peças tão significativas como o canhão que disparou o primeiro tiro da segunda Grande Guerra, e uma banca onde se pode tocar em objectos daquele tempo: máscaras de gás para crianças que elas traziam ao pescoço, ovos em lata, postais e cartas de amor escritas na frente de batalha.
Atravessando o Canal, encontra o Lowry, outro complexo arquitectónico assombrosamente moderno. Lá dentro, dominam a luz, muito intensa, o vidro, a folha de alumínio. E a cor. As cores, que são todas, vivas, fortes: laranja, amarelo, vermelho, rosa, azul, roxo... Cada parede tem sua cor, mas longe disso redundar numa amálgama de mau gosto, o resultado são sensações visuais quentes e alegres. O Lowry é um complexo de artes com seis pisos e a área equivalente a cinco estádios de futebol. Tem dois auditórios para espectáculos de teatro, dança e ópera, e uma galeria de arte interactiva, em parte dedicada a L. S. Lowry, o artista que dá o nome ao edifício. O pintor das chaminés, como ficou conhecido, é tido como um dos principais ‘culpados’ pelo facto da cidade ter ficado sempre conotada com fábricas, fumo e cinza .
Almoce no restaurante ou na cafetaria, que também tem pratos quentes, e se estiver sol aproveite o terraço para apreciar a vista sobre o canal, a ponte e a imponente silhueta do Imperial War. Depois, pode sempre ir às compras no ‘designer outlet’, mesmo ao lado, e regressar ao Lowry pelas 19h30, a tempo de uma peça ou ópera.
Os museus da cidade têm a ‘terrível’ virtude de serem gratuitos. De modo que pode completar a sua estadia com uma ida à Manchester Art Gallery, passear pelo bairro de Didsbury Park, zona de moradias com jardim, ou por Tatton Park. Na hora da despedida, tempo ainda para um último trago de ‘Vimto’, a bebida local - uma saudável mistura de uva, framboesa e amora – e para o surgimento de uma dúvida. Começo a perguntar-me se, como diz a ‘T-shirt’ que ganhou assento na Manchester Art Gallery, «ao oitavo dia, Deus criou Man(chester)».

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TODOS OS TEXTOS © KATYA DELIMBEUF

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Guia | Manchester à lupa


ONDE FICAR

The Lowry Hotel
50, Dearmans Street
Tel: 00 44 16 18 27 40 00
www.roccofortehotels.com
Os hóspedes do único 5 estrelas de Manchester, um gigante de vidro e luz, têm como privilégio a vista para a Trinity Bridge, de Santiago Calatrava, e para o rio Irwell. Há ainda a vantagem do restaurante: o White River Room, com ementas do ‘chef’ Marco Pierre, é um dos mais cobiçados. Os 165 quartos têm todos camas ‘kingsize’ e leitor de CDs. As ‘suites’ são desmesuradamente grandes (95 m2) e igualmente luxuosas – o ‘pequeno apartamento’ pode ser dividido em duas áreas (quarto e sala de reuniões), duas casas-de-banho, duas televisões B&O, leitor de DVD e de CD, estores eléctricos, toucador, e a possibilidade de pedir quase tudo enquanto se está no banho. A ‘suite’ fica em £495.

Didsbury House
Didsbury Park, Didsbury Village
Tel: 00 44 16 14 48 22 00
www.didsburyhouse.co.uk
Esta magnífica casa vitoriana de 1830, no bairro de moradias de Didsbury, convertida em hotel de ‘design’, é o idílio de qualquer um. A decoração é de extremo bom gosto, o cuidado pelo pormenor, o vitral de origem com o brasão da família, as lareiras com pinhas e pedras, as banheiras de pés e o jardim onde ainda há esquilos são algumas das coisas pelas quais poderá facilmente apaixonar-se. De £80 a £165.

Malmaison
Piccadilly
Tel: 00 44 16 12 78 10 02
www.malmaison.com
Aquele que era um antigo armazém de algodão abriu as portas em 1998 como espaço magnífico, amplo, depurado, de decoração irrepreensível. Assente em cores-base de preto e vermelho, ou castanho, beije e branco, desenhado por D. Leedh Rhodes, o hotel tem vários recantos, com mobiliário de ‘design’, uma adega originalmente encastrada no vão da escada, e uma sala de jantar lindíssima, com pormenores de floreados em madeira de inspiração Arte Nova.

Alias Rossetti
107 Piccadilly
Tel: 00 44 16 12 47 77 44
www.aliashotels.com
Outro antigo armazém de algodão de tijolo laranja reconvertido em hotel, mas com uma decoração muito mais moderna e informal. Os 61 quartos estilo ‘loft’, têm cama ‘kingsize’, mobiliário do ‘designer’ italiano Moltini, e os pormenores da casa-de-banho – como o relevo da parede da banheira ou o ‘quadro-calendário’ – são dignos de registo. Destacamos as cinco ‘penthouses’ (£330), o Café Paradiso, em baixo, onde se come bem, e o facto de cada andar ter um espaço com fruta, leite, chá e cereais, onde nos podemos servir a qualquer hora do dia ou da noite. Quarto duplo: £105

ONDE JANTAR

Le Mont
Le Mont at Urbis, levels 5&6, Cathedral Gardens
Tel: 00 44 16 16 05 82 82
www.urbis.org.uk
Uma vista privilegiada sobre a cidade e a garantia duma excelente refeição (cozinha francesa moderna), dada pelo chefe Robert Kirsby, são as grandes mais-valias do sítio. Muito luminoso, é um óptimo ‘aperitivo’ antes de visitar o Urbis. A partir de £16,95, ao almoço.

The Restaurant Bar & Grill
14 John Dalton St
Tel: 00 44 16 18 39 19 99
O restaurante da moda. Dois andares envidraçados, com vista para a rua, e uma escadaria de degraus suspensos, como que presa por arames, num jogo de linhas verticais e diagonais, valem a visita. Muito selecto, tem bom ambiente e boa comida.
Yang Sing

34 Princess Street
Tel: 00 44 16 12 36 22 00
www.yang-sing.co.uk
A fama de melhor chinês de Manchester já é dele, mas o Yang Sing pretende disputar o título de melhor cantonês do Reino Unido, da Europa e até do mundo. Não é a decoração que o distingue, mas a variedade e qualidade da ementa, para além do sentido estético apurado na decoração dos pratos. O proprietário, Harry Yeung, veio para Manchester há 33 anos e abriu o Yang Sing há 26. Sempre que viaja para Hong Kong, regressa com receitas novas. «O que torna o Yang Sing tão popular?» «Preocupamo-nos. Com as pessoas, e com a comida», diz. Recomendamos vivamente as ‘coquilles St Jacques’. A partir de £28.

White River Room
The Lowry Hotel
50 Dearmans Place, Chapel Wharf
Tel: 00 44 16 18 27 40 00

Simply Heathcotes
Elliot House, Jackson Row
Tel: 00 44 16 18 35 35 36
www.heathcotes.co.uk

COMPRAS

King Street e ‘Millenium Quarter’:
A rua e o bairro ideais para quem quer ver e/ou comprar roupa nas melhores lojas de marca: Armani, DKNY, Hugo Boss, Diesel... No ‘Millenium Quarter’ há ainda o sobejamente conhecido Harvey Nichols e o Triangle, um centro comercial com estilo. Para roupa de ‘designers’ menos ‘mainstream’, Bridge Street tem pelo menos três lojas interessantes: Paul Smith, Geese (onde David Bekham é cliente habitual) e Aspecto.

Pop Boutique
34-36 Oldham St
Tel: 00 44 16 12 36 57 97
www.pop-boutique.com

Oklahoma
74-76 High Street
Tel: 00 44 16 18 34 11 364

VALE A PENA

Tatton Park
Knutsford, Cheshire
Tel: 00 44 16 25 53 44 00
www.tattonpark.org.uk
Magníficos lagos, um jardim com 50 hectares de árvores e plantas exóticas do mundo inteiro, o Tudor Hall do século XVI e uma mansão neo-clássica com uma colecção de tesouros contribuem para que este seja um dos parques mais visitados de Inglaterra. Há também espécies raras de animais, na Home Farm, que fazem as delícias dos miúdos.

Royal Exchange Theatre
St. Ann’s Square
Tel: 00 44 16 18 33 98 33
www.royalexchange.co.uk
Há 13 teatros na cidade de Manchester, mas vale a pena ir a este, nem que seja pelo edifício, de 1743. Era o antigo local de venda do algodão, único sítio no qual se podia comercializar o tecido e onde os preços eram estabelecidos e afixados num grande painel suspenso. Era, em suma, a Bolsa de valores daqueles tempos. Chamaram-lhe a maior sala do mundo, pela sua capacidade de poder conter até 14 000 pessoas, mas os bombardeamentos da segunda guerra tornaram-na mais pequena. Em 1969, com o fim da indústria do algodão, foi transformada em teatro. O teatro foi montado ao centro da sala, feito aranhiço moderno, pela mão de Richard Negri. Tem boas produções e várias particularidades: o piso térreo é para os actores e os dois pisos (1º e 2º andar) para os espectadores; mas como todos estão ligados por escadas, os actores andam no meio do público.

Design House
17 Oak Street, Northern Quarter
Tel: 00 44 16 18 32 42 74
www.craftanddesign.com
Tratasse o Estado português assim os nossos artistas, e eles provavelmente levantariam as mãos aos céus. A ‘Design House’ tomou as instalações do antigo mercado do peixe para se transformar em dois andares com 17 lojas. Galeristas, ceramistas, pintores, decoradores, pessoas que trabalham o ferro ou o vidro têm aí o seu espaço de venda ao público. Uma boa forma de juntar tudo em um. 6439 c.